Para entender a Literatura – exercícios iniciais

Quando começamos a estudar a Literatura, muitos conceitos ainda estão distantes do nosso entendimento. Estudar Gramática, Literatura e Redação por meio de exercícios é uma maneira eficaz de se preparar para os exames que estão por vir e também de aprender a manusear a lingua eficientemente. O que proponho aqui está alinhado com alguns posts em que tratei de conceitos fundamentais de Literatura e de tradições literárias. Faça-os e depois assine nossa newsletter para receber em seu e-mail os gabaritos de todos os exercícios.

conceitos básicos de literatura

Para entender o básico em Literatura

1. Diferentemente do espectador de cinema ou de televisão, o leitor dispõe da faculdade de regular livremente a cadência das sequências do livro e de voltar, se necessário. Tal poder de reinterpretação e de crítica retrospectiva converte a leitura em diálogo. De acordo com o texto:
a)  o exercício de leitura oferece condições de recuperação da mensagem.
b)  a compreensão do livro condiciona-se à cadência das sequências do livro.
c)  o bom leitor é aquele que se ajusta ao movimento de avanço e retrocesso no livro.
d)  a crítica retrospectiva é decorrência da leitura bem assimilada.
e)  sem reinterpretação não se apreende a essência daquilo que foi lido.

Instrução para o exercício 2

Leia o fragmento a seguir, extraído do Poema sujo, de Ferreira Gullar, para responder ao exercício.

(Para ser cantado com a música da Bachiana nº2, da Tocata, de Villa-Lobos.)

lá vai o trem com o menino
lá vai a vida a rodar
lá vai ciranda e destino
cidade e noite a girar
lá vai o trem sem destino
pro dia novo encontrar
correndo vai pela terra
vai pela serra
vai pelo mar
cantando pela serra do luar
correndo entre as estrelas a voar no ar

2. Se compararmos mentalmente este fragmento do Poema sujo, de Ferreira Gullar, com o desenvolvimento de um tema similar na linguagem cotidiana, é possível verificar que:
a)  o vínculo que une as palavras do texto, tal como nas palavras que usamos na linguagem cotidiana, é meramente sintético, responde a uma exigência lógica e visa a uma captação imediata da mensagem que é transmitida.
b)  não é possível tal comparação porque o texto é absurdamente ingénuo.
c)  a única diferença entre a linguagem literária e a cotidiana é que a primeira pode abrir mão de exigências como ritmo e sonoridade, para alcançar uma comunicação mais direta com o leitor.
d)  na linguagem cotidiana, a comunicação é imediata; na literária, no entanto, é indireta, devido à elaboração prévia da mensagem por parte do escritor e pela leitura e eventuais releituras do leitor. Tudo isso permite um melhor 'aproveitamento das possibilidades verbais, no sentido de enriquecer as relações existentes entre as camadas sonoras e semânticas do texto.
e)  a originalidade do tema escolhido é a única força responsável pela expressividade do texto, sendo a maneira como o autor plasma em palavras este tema urn fator de importância secundária.

3. "O leitor verá em Grande sertão: veredas um movimento que afinal reconduz do mito ao fato, faz da lenda símbolo da vida, e mostra que, na literatura, a fantasia nos faz devolver sempre enriquecidos à realidade do cotidiano, onde se tecem os fios de nossa treva e de nossa luz, no destino que nos cabe."
Aponte a alternativa que mais se afina com as palavras do crítico Antônio Cândido.
a)  Só conseguiremos apreender a realidade de nossa vida cotidiana se a encararmos através dos mitos e das lendas que a literatura nos transmite.
b)  A fantasia literária não é gratuita; ao contrário, permite-nos entender melhor a realidade em que vivemos.
c)  No jogo entre a lenda e a realidade cotidiana, sempre existirá uma fronteira intransponível, pois a literatura é sempre uma fuga.
d)  Se a lenda é um símbolo da vida, só poderemos apreender a realidade do cotidiano se entendermos os símbolos que nos são oferecidos pela literatura.
e)  A literatura apresenta sempre uma realidade menos rica que aquela que somos capazes de apreender no cotidiano.

Instrução para os exercícios 4 e 5

Leia o excerto a seguir, extraído da obra A personagem de ficção, de Anatol Rosenfeld, para responder aos exercícios.

Normalmente o homem é um ser incapaz de valorizar apenas esteticamente o mundo humano, mesmo quando imaginário; a literatura não é uma esfera segregada.
Glorificar a arte, à maneira de Schopenhauer? como "quietivo" ou entorpecente de nossa vontade, resulta em desvirtuamento da função que a arte exerce na sociedade. Isso, porém, não excluí, antes pressupõe que a grande obra de arte literária nos restitua uma liberdade - o imenso reino do possível - que a vida real não nos concede. A ficção é um lugar ontológico privilegiado: lugar em que o homem pode viver e contemplar, através de personagens variadas, a plenitude de sua condição, e em que se torna transparente a si mesmo; lugar em que, transformando-se imaginariamente no outro, vivendo outros papéis e destacando-se de si mesmo, realiza e vive a sua condição fundamental de ser auto-consciente e livre, capaz de desdobrar-se de si mesmo e de ob-jetivar a sua própria situação,
A plenitude de enriquecimento e libertação, que desta forma a grande ficção nos pode proporcionar, torna-se acessível somente a quem sabe ater-se, antes de tudo, à apreciação estética que, enquanto suspende o peso real de outras valorizações, lhes assimila ao mesmo tempo a essência e a seriedade em todos os matizes. Somente quando o apreciador se entrega com certa inocência a todas as virtualidade da grande obra de arte, esta por sua vez lhe entregará toda a riqueza encerrada no seu contexto. Neste sentido pode-se dizer com Ernst Cassirer que, afastando-se da realidade e elevando-se a mundo simbólico, o homem, ao voltar à realidade, lhe apreende melhor riqueza e profundidade. Através da arte, disse Goethe, distanciamo-nos e ao mesmo tempo aproximamo-nos da realidade.

4.    Assinale, de acordo com o texto, a afirmação verdadeira.
a)  A literatura desempenha um importante papel, distanciando o leitor de seus problemas reais.
b)  O ser humano pode se realizar através de um enfoque estético puro da realidade.
c)  O mundo imaginário não pode ser valorizado esteticamente, considerada a incapacidade de libertação interior do homem.
d)  É leitor competente aquele que sabe dissociar a realidade real da imaginária, visto que a arte é apenas fruto do prazer de pessoas que vivem em estado de ócio permanente.
e)  A literatura não pode ser vista somente segundo o plano estético, como compartimento estanque, mas é válida na medida da sua integração no todo espiritual do homem.

5.    De acordo com o texto:
a)  A ficção científica leva o homem a um estado de concentração mental tão profundo que sua imagem de si mesmo se evapora.
b)  A obra literária, pelo seu aspecto ficcional, permite ao homem um verdadeiro desdobramento de sua personalidade, na medida em que enriquece e possibilita a realização de sua condição psicológica.
c)  O leitor exige muito mais coerência nas atitudes e pensamentos de uma pessoa de sua relação do que de uma personagem de uma obra de ficção.
d)  A integração da literatura no complexo da realidade humana distancia o homem do mundo imaginário propriamente dito, levando-o ao conhecimento pleno de sua condição.
e)  A variedade das personagens de uma obra é que dá ao leitor a medida da possibilidade de imaginação de sua própria vida.

6.    Na tira a seguir, Dentinho interpreta as palavras do Sargento de um modo inesperado. Por que isso acontece?

hagar

Texto para os exercícios de 7 a 9

A inauguração

A convite da História Universal
que havia marcado a festa para 21 de abril,
o Almirante Pedro Álvares Cabral
veio com uma frota de luzidas caravelas
num séquito naval de mastros e de velas,
de estandartes e de cruzes,
de sotainas, alabardas, couraças e arcabuzes
inaugurar a futura República
dos Estados Unidos do Brasil.
A terra se enfeitara das mais raras maravilhas:
pássaros, parasitas, caciques e serpentes,
urros e pios, gritos e cânticos dolentes
e o mar de azulejo
palpitava de pirogas e de quilhas.
Pelas picadas da floresta
foram chegando as delegações da terra:
generais carijós com tangas e miçangas,
coronéis botocudos com escudos,
tocantins com inúbias, bororós com tacapes,
comissões de xavantes, guaicurus e guararapes.
Das curvas bruscas dos rios
em igarapés, tangendo borés, surgiram pajés
bêbedos de sangue tapuia,
trazendo ao almirante português
alvíssaras das tabas tabajaras...
E Pedro Álvares Cabral
para inaugurar a pátria de Washington Luís
fincou na terra uma cruz.
E, de noite, o estelário queimou fogos de artifício no céu do Equador.
E os marinheiros trouxeram de bordo as guitarras para que dessem à luz a primeira saudade brasileira...

Menotti dei Picchia, República dos Estados Unidos do Brasil.

7.     Que aspecto do texto relaciona-se ao mundo real?

8.     Que aspecto relaciona-se à concepção do mundo como um jogo?

9.    Por que o poema constitui um texto literário?

10.   Na tira a seguir, que outro elemento é importante para o sentido geral dos quadrinhos, além do significado das palavras?

11. Em que medida os dois últimos versos condensam o sentido fundamental do poema a seguir?

Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequejio dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé.
Comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

Carlos.Drummond de Andrade. Alguma poesia.

Visão 1944

Meus olhos são pequenos para ver
a massa de silêncio concentrada
por sobre a onda severa, piso oceânico
esperando a passagem dos soldados.

Meus olhos são pequenos para ver
o general com seu capote cinza
escolhendo no mapa uma cidade
que amanhã será pó e pus no arame.

Meus olhos são pequenos para ver
o transporte de caixas de comida,
de roupas, de remédios, de bandagens
para um porto da Itália onde se morre.

Meus olhos são pequenos para ver
o corpo pegajento das mulheres que
foram lindas, beijo cancelado
na produção de tanques e granadas. [...]

Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.

12.   A reinvenção da realidade, com arte e sensibilidade, é uma das características do trabalho do escritor. No poema "Visão 1944", Drummond não fala em "guerra", mas se pode sentir sua sombra terrível. Cite algumas passagens em que ela se faz notar.

13.   As frases a seguir são todas malfeitas, ou porque algumas palavras não estão aplicadas aos objetos verdadeiros, ou porque há qualquer injustiça no julgamento. Reescreva-as, desfazendo os equívocos:
I) Todos os animais são racionais.
II)   Naquele dia, surpreendeu-nos uma chuva de granito.
III)   Haverá uma greve dos banqueiros contra seus patrões.
IV)   Eu sei que nesta hora ela está pensando em mim.
V)  Todo homem é mortal. Os protozoários são imortais. Portanto, os protozoários são homens.

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