Uma das funções da língua é servir de veículo de informação. Usada para esse fim, requer-se dela o máximo de precisão, para evitar ambiguidades ou interpretações indesejadas. Esse ideal, porém, nem sempre é atingido, como se pode observar na questão que segue, extraída de um vestibular.
A Folha de S. Paulo de 29 de abril de 1997 anunciou o funcionamento do comércio e de outros serviços na cidade durante o feriado do Dia do Trabalho com a notícia abaixo:
Lojas fecham 5ª e abrem domingo
O que abre e o que fecha no feriado prolongado
- Postos de gasolina: funcionamento facultativo na quinta-feira
- Correios: fecham quinta-feira
- Supermercados: fecham quinta-feira
- Mercado municipal: funciona quinta-feira das 7 h às 12 h
- Shopping centers: funcionam na quinta-feira apenas praças de alimentação e lazer, das 10 h às 22 h; funcionam normalmente sexta-feira e sábado; todas as lojas funcionam no domingo das 10 h às 22 h
1) A leitura da manchete, se feita isoladamente, poderia levar a crer que as lojas ficariam fechadas por três dias. Escreva uma nova manchete desfazendo a possibilidade dessa leitura.
R.: Algumas manchetes possíveis: Lojas fecham 5ª, mas abrem sexta, sábado e domingo; Lojas fecham na 5º, mas compensam no domingo; 5ª, lojas fechadas; domingo, abertas.
2) É comum o uso de informações corretas para induzir a conclusões duvidosas. Observe o texto que segue, extraído de uma entrevista concedida à revista Época pelo então prefeito de São Paulo, Celso Pitta.
Época: Quanto a prefeitura investiu em obras contra enchentes?
Celso Pitta: Investimos R$ 160 milhões nessas obras no ano passado. É o volume adequado à realidade financeira da prefeitura, mas que, mesmo assim, supera o que foi gasto, por exemplo, na gestão do PT. Destinamos, em média, R$ 176 milhões por ano enquanto a administração petista aplicou R$ 154 milhões por ano.
O entrevistado fez uso de cifras para concluir que a sua administração destinou mais verbas que a do Partido dos Trabalhadores (PT) para o controle das enchentes. Considerando os números citados em termos absolutos, não há como contestar essa conclusão do prefeito. Analisando, porém, esses dados em conjunto com informações colhidas em outras fontes e com nosso conhecimento de mundo (levando-se em conta a inflação, por exemplo) é possível contestar a conclusão de Celso Pitta?
R.: É perfeitamente possível, o PT governou Sao Paulo de 1989 a 1992. Considerando que o valor da moeda não tem permanecido estável a quantia de R$ 154 milhões, na época, pode ter tido um investimento bem mais alto que R$ 160 milhões ou R$ 176 milhões em 1998. Para isso, basta que se admita uma inflação de 10% ao ano.
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