A POLISSEMIA DA PALAVRA CHANINHA

“Eu suo na chaninha / Aí, ela cheira mal / Ela cheira a chulé”.
Os versos acima retirados de uma cartilha de alfabetização utilizada na rede municipal do Rio têm provocado um alvoroço. Por ignorar as possibilidades pedagógicas de usar a palavra chaninha numa cartilha de alfabetização, o Sindicato Estadual dos Professores de Educação do Rio (Sepe) perdeu a oportunidade de conhecer um conceito muito interessante que desenvolvo em minhas aulas de Língua Portuguesa: a Polissemia.
Polissemia é a multiplicidade de sentidos que uma palavra pode ter.

Confira os posts publicados no Blog do Bauru sobre o assunto:
- Só pra quem é do ramo...
- Polissemia da palavra PASSARINHO
- Novamente a Polissemia
É claro que devemos observar o fato de que a linguagem dos livros didáticos deve ser coerente com o contexto em que serão usados e com a variante linguística regional. Não se pode, porém, baseado em gostos ou no senso comum, atribuir um determinado valor a uma palavra. Elas perdem e ganham significados na boca dos falantes.
Apenas contextualizando o fato que motivou o post, nessa cartilha “polêmica” o personagem chama de "chaninha", seu par de chinelos.
“Esse texto existe em cartilhas de todo o Brasil há dez anos e nunca houve problemas. O professor tem como função explicar e tem que estar atento à polissemia. O que não pode é colocar palavrão no livro. Mas uma mesma palavra pode ter vários sentidos em vários lugares. Chaninha é, em muitas cidades do interior, sinônimo de bichano”.
Desconsiderarei as afirmações do diretor do Instituto Alfa e Beto, responsável pela confecção das cartilhas, de que são políticas as críticas, pois qualquer professorzinho formado num num curso por correspondência sabe que a língua é viva e quem faz o seu significado é o falante. Não se deve, porém, desprezar as variantes no momento da interpretação.
Confesso que não sou tomado por um desesperado senso pudico. Cresci com uma chaninha roçando minhas pernas. Dormi com uma muitas vezes na minha adolescência e confesso que ficava irado quando orgias eram feitas com ela no telhado da casa do meu avô. Tudo isso, no entanto, era esquecido quando os filhotes da Chaninha, gata de minha avó, nasciam. Ruim é que, quando eu já me apegava às novas chaninhas, minha avó mandava que eu distribuísse para os vizinhos ou então que jogasse as chaninhas no mato.
gata_molhada_chaninha Chaninha aproveitando o momento de lazer

Fecho o post com a afirmação da secretaria responsável pelas cartilhas:
“O texto em questão é um dos diversos que apresentam palavras com fonema grafado com ch e deve ser analisado dentro de um contexto que inclui, entre outros aspectos, as ilustrações. Considerando o contexto, não cabe a análise e os significados atribuídos a palavras isoladas e que, na expressão em questão, houve interpretação subjetiva e que as imagens do livro excluem a possibilidade dessa interpretação equivocada”.

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4 Comentários

  1. A lingua é rica e você é ambicioso em rapaz, gostei da agressividade dos ads hahah

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  2. Realmente, Meira, a língua é rica e mais que isso... ela é viva e se movimenta. Agressividade? você não viu anda.

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  3. Post muito legal...
    Nossa língua é assim, se você não tomar cuidado, ofende alguém sem querer...

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  4. Gilberto, ofender é terrível mesmo. Um de meus últimos posts aqui no blog falava disso. Temos de tomar cuidado com mensagens que produzimos,pois muitas vezes, ou melhor, a maioria das vezes o significado está na cabeça do leitor. Devemos considerar esse e outros aspectos, pois o buraco sempre é mais embaixo.

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