Sempre que falo a respeito de produção de textos dando, inclusive, dicas de como construir uma boa redação no concurso público, passo pela questão da coesão textual. É “impossível” construir um texto coerente sem passar, antes, pela correta ligação entre as partes do texto. Além disso, enfatizo com os alunos que um bom texto dissertativo estabelece relações intertextuais com outros textos que não apareceram na coletânea da prova em questão. Saber fazer essas relações pode ser um diferencial que garantirá a vaga sonhada no curso escolhido pelo vestibulando ou o cargo escolhido pelo concurseiro. Por esses motivos é que trago hoje um artigo muito importante para escrever bem: palavras dêiticas e anafóricas.
O que são palavras dêiticas?
As palavras dêiticas dependem da situação extralinguística para serem interpretadas. Em outros termos, essas palavras encontram sua referência fora da sequência linguística em que se encontram.
Podem funcionar como dêiticos as categorias de pessoa (representadas por pronomes como eu e você), espaço (certos advérbios de lugar) e tempo (que localizam os acontecimentos como anteriores ou posteriores ao momento da fala) e que, de alguma forma, "aterrissam" o discurso na realidade. São, principalmente, os pronomes que indicam os participantes da interação verbal, os artigos, alguns advérbios e os tempos verbais que situam os eventos em relação ao presente da fala.
Ana Clara comprou um elegante vestido para ela.
Palavras como o pronome ela que não têm um referente fixo, são, por assim dizer, como variáveis de uma equação matemática (X + Y= 10, por exemplo), em que o valor de X e Y pode ser, respectivamente, 3 e 7, 4 e 6, 1 e 9, entre outras possibilidades.
Esse tipo de palavra extrai seu significado ou da interpretação da situação extralinguística, ou do próprio contexto linguístico no qual estão inseridas. Há, portanto, duas interpretações possíveis para o pronome ela nesse exemplo:
• Ela pode se referir a um ser do sexo feminino presente ou não na situação de interação verbal, mas não coincidente com Ana Clara.
• Esse pronome se refere necessariamente a Ana Clara, mencionada no contexto linguístico.
Em ambos os casos, porém, a interpretação do pronome depende do contexto extralinguístico.
Ana Clara feriu-se com o canivete.
Nesse caso, o pronome se, para ser adequadamente interpretado, precisa referir-se necessariamente a um elemento presente no mesmo texto, a saber, Ana Clara.
O que são palavras anafóricas?
As palavras anafóricas extraem sua referência da própria sequência linguística em que se encontram, isto é, retomam, estabelecem relações de correferência com outros termos do texto em que estão inseridas. Servem, pois, para retomar outras passagens do texto.
As palavras anafóricas também se referem a pessoas, lugares, tempos, objetos e acontecimentos que podem representar-se no enunciado ou texto sob a forma de pronomes, artigos definidos, alguns tempos verbais e advérbios.
Um texto sem palavras anafóricas correria o risco de ser um não texto; sem a coesão resultante do processo de retomar e de antecipar o que vai ser dita, a noção de texto como uma unidade significativa ficaria comprometida.
Algumas vezes, a identificação da referência de um pronome não é tarefa fácil. Isso pode ocorrer quando não se dispõe do contexto ou no caso de uso de palavras quantitativas {todo, alguns, um, etc). Por isso, quem escreve deve cuidar para evitar ambiguidades.
Palavras anafóricas em comentário de um famoso âncora de jornal:
Mais uma vez os deputados votam aumento do próprio salário. Isso é uma vergonha! (ou) Essa decisão desvaloriza a imagem da Assembleia.
É isso. Esta é uma rápida revisão sobre o assunto visando ajudar meus leitores a construir textos mais coesos, pois esta é uma competência muito bem quista pelos corretores de redação.
Caso queira praticar um pouco mais sobre o assunto, veja o artigo que publiquei no site Mais Educativo. São exercícios de coesão textual com gabarito inclusive.
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