10 exercícios com gabarito sobre Barroco

Você vai fazer o Enem ou um vestibular nos próximos meses? Um dos períodos literários que mais caem nessas provas por conta das possibilidades de exercícios é o Barroco. Publiquei recentemente dois artigos sobre o Barroco lá no site que dedico ao estudo do Enem. No primeiro deles trago exercícios sobre textos como o um baseado no famoso quadro “A morte da virgem, de Caravaggio. Além dele, três exercícios sobre um soneto do poeta espanhol Francisco de Quevedo. Confira o post lá clicando aqui.

Agora, confira os exercícios abaixo e depois o gabarito para se preparar adequadamente para as provas.

Para responder às questões 1 e 2, leia o poema.

A N. Senhor Jesus Cristo com atos de arrependido e suspiros de amor

Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.

Maldade, que encaminha a vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido,
Vencido quero ver-me e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.

Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz.

Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais abraços,
Misericórdia, amor, Jesus, Jesus!

MATOS,  Gregório de. Poemas escolhidos. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.

1. Outra face da obra de Gregório de Matos é sua poesia sacra, da qual o texto transcrito anteriormente é um claro exemplo. Identifique as principais características que caracterizam esse poema como sacro.

2. Na constituição do poema, há um procedimento formal que se repete em praticamente todos os versos. Que procedimento é esse?

3. As duas imagens a seguir abordam um mesmo tema religioso: a crucificação de Cristo. Observe-as com atenção e identifique qual das imagens é claramente renascentista e qual é barroca. Justifique sua resposta.

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Leia o poema a seguir para responder às questões de 4 a 6.

Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas,
A quem infiéis despedaçaram

O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.

Em todo o sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.

O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,
Um braço que lhe acharam, sendo parte,
Nos diz as partes todas deste todo.

WISNIK, José Miguel (Org.). Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Cultrix, 1997.

4. O poema lido pode ser classificado como descritivo ou argumentativo? Por quê? Responda considerando o tema do soneto.

5. O soneto transcrito pertence ao Barroco. Aponte as características que o filiam a este movimento.

6. O poema acima foi considerado cultista por alguns críticos e conceptista por outros. O que no poema justificaria a sua inserção em cada uma dessas vertentes do Barroco?

Leia os textos a seguir para responder às questões de 7 a 10.

Texto 1

Sermões

Se gostas da afetação e pompa das palavras e do estilo que chamam culto, não me leias. Quando este estilo florescia, nasceram as primeiras verduras do meu; mas valeu-me tanto sempre a clareza, que só porque me entendiam comecei a ser entendido. [...] Este desventurado estilo que hoje se usa, os que o querem honrar chamam-lhe culto, os que o condenam chamam-lhe escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro, é negro, e negro boçal e muito cerrado. É possível que somos portugueses, e havemos de ouvir um pregador em português e não havemos de entender o que diz?!

VIEIRA, Padre Antônio. Sermões. São Paulo: Hedra, 2000. (Fragmento).

Texto 2

De uma dama que, tirando um anel, se picou com um alfinete

Prisão do nácar era articulado,
de minha decisão rival luzente,
um diamante, ultraengenhosamente
em ouro também ele aprisionado.

Clóri, pois, que seu dedo molestado
por metal, mesmo caro, não consente,
galharda um dia, além de impaciente,
o redimiu do vínculo dourado.

Mas ai! que insidioso latão breve
nesses cristais de sua bela mão
bebe sacrílego sangue divino;

púrpura ornou não índico, mas fino
marfim; cheia de inveja, sobre neve
a Aurora desfolhou cravos em vão.

GÓNGORA, Luis de. Poemas de Góngora. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Art Editora, 1998.

- Índico: relativo à índia

7. O que facilita a compreensão do poema de Góngora é seu título bastante explicativo (como é comum no Barroco). Levando em conta esse dado, responda às questões.

a. A que se refere a primeira estrofe?

b. Que imagens usadas pelo eu lírico comprovam sua resposta?

8. Por que podemos afirmar que este é um soneto cultista?

9. Nas duas últimas estrofes, alternam-se referências à cor branca e ao vermelho.

a) Enumere as imagens referentes a cada uma dessas cores.

b) A que se referem essas imagens?

10. Considere a relação entre o texto de Vieira e o soneto analisado.

a. Qual a crítica que o padre Vieira faz ao estilo cultista?

b. Essa crítica se aplica ao soneto analisado? por quê?

GABARITO DOS EXERCÍCIOS

1. O eu lírico dirige-se a Deus e a Cristo, pedindo perdão por seus pecados e implorando pela salvação de sua alma. O tema desenvolvido, portanto, é de natureza religiosa, sacra.

2. A cada final de verso, a última palavra escrita é repetida no início do verso seguinte. Exemplo: “Maldade que encaminha a vaidade/Vaidade, que todo me há vencido,/Vencido quero ver-me e arrependido,/Arrependido a tanta enormidade.”

3. A primeira imagem pode ser associada à estética barroca. Nela observamos uma representação do momento da crucificação marcado por uma perspectiva sombria (nota-se, por exemplo, o céu tempestuoso, ao fundo). Os adoradores são retratados em tons escuros, com destaque para o olhar de desconsolo que voltam para a imagem de Cristo crucificado. Cristo aparece com os olhos voltados para o céu, como a se submeter ao sofrimento a que estava destinado. A pintura é de autoria de domenicos theotocopoulos, mais conhecido como El Greco, e foi realizada entre 1585 e 1590. A segunda imagem é claramente renascentista. A principal diferença está no uso das cores e da perspectiva mais ampla. Neste quadro de Andrea Mantegna (composto entre 1456 e 1460), constata-se a tendência renascentista de compor uma cena com diversos “núcleos” humanos. Assim, além de Cristo e dos dois ladrões, no centro do quadro, podemos ver que há um agrupamento à esquerda, em torno de Nossa Senhora, e outro à direita, onde se encontram os soldados romanos. Predomina a ideia de equilíbrio da cena, com a imagem principal destacada no centro,“contida” por um cenário mais amplo, ao contrário do quadro barroco, de perspectiva claramente intimista e centrado na explicitação do sofrimento, seja por se concentrar na imagem de Cristo, seja pelo uso dos tons escuros.

4. O poema é argumentativo, pois procura levar o leitor à conclusão de que o desrespeito a uma parte da imagem de Jesus (o braço arrancado) é o desrespeito ao todo.

5. Temos como características que filiam o soneto ao Barroco o tema religioso e a estruturação do poema em antíteses.

6. O que justifica a inserção do soneto no cultismo é o “burilamento linguístico”, com os jogos de palavras que exploram os vários sentidos de todo e parte, e o consequente acúmulo de antíteses envolvendo os mesmos termos. A sua inserção no conceptismo se deve ao fato de o poema se fundamentar na exploração de uma estrutura argumentativa e não no uso de imagens sensoriais.

7. a. A primeira estrofe refere-se ao anel que está no dedo de Clóri.

b. “Nácar” representa a pele de Clóri, por sua brancura. A “prisão do nácar” é, portanto, o anel. O “diamante”, também aprisionado em “ouro”, indica a descrição que o eu lírico faz do anel.

8. O poema pertence à vertente cultista do Barroco pela elaboração de suas metáforas (o que torna o texto de entendimento difícil), além de apresentar uma perspectiva descritiva, e não argumentativa, na qual há o predomínio de imagens sensoriais, no caso, as visuais.

9. a. Branco: “cristais”, “marfim” e “neve”. Vermelho: “sangue”, “púrpura” e “cravos”.

b. As imagens de cor branca referem-se à pele da dama, que, ao ser ferida pelo alfinete, fica manchada de vermelho (sangue).

10. a. Vieira critica a ininteligibilidade do cultismo, sua obscuridade. Refere-se à “afetação e pompa” dessa tendência estilística, que se opõe ao princípio de clareza e compreensão defendido pelo conceptismo.

b. Certamente, a crítica de Vieira aplica-se ao soneto de Góngora, uma vez que as metáforas utilizadas dificultam a compreensão do texto (possível apenas pela orientação do título). Além disso, o tema banal é tratado com “afetação”, numa clara demonstração de preciosismo linguístico, característico do estilo culto chamado por Vieira de “negro boçal e muito cerrado”.

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