Literatura como imitação

Com este artigo retomamos a discussão sobre a Literatura. Hoje, pensaremos no conceito de imitação da natureza. Depois disso, faremos alguns exercícios para verificar se o conceito foi bem entendido. Vamos lá? Não deixe de conferir os links no final desta postagem.

literatura como imitação

Noção de mimesis

  • Conceito de literatura como imitação (ou mimese): Aristóteles, em Poética.
  • Semelhança entre a pintura e a poesia: observação e reprodução.
  • O escritor não só imita, mas também inventa.

Tipos de imitação

  • Pedagógica: o homem, desde a infância, imita as ações dos outros homens para melhor se integrar à sociedade.
  • Verbal: as palavras imitam seus objetos (ou referentes).
  • Animal: o mimetismo é uma forma de sobrevivência dos bichos.
  • Inautêntica: a imitação genuína não é cópia. É reelaboração pessoal.
  • Artística: aproveitamento dos recursos imitati-vos na obra de arte. Esforço, trabalho, talento, além de matérias e técnicas especiais: som (música), argila (escultura), tintas (pintura), palavras (literatura).
  • Platonizante: antes de nascermos, nossa alma teria passeado pelo céu e lá pôde contemplar aquelas coisas perfeitas. Quando entramos neste mundo, começamos a esquecer as maravilhas que vimos lá em cima. Entretanto, nós não as esquecemos totalmente. Platão explicava isso pela teoria da saudade. Quando vemos uma coisa bonita, é porque essa coisa bonita imita outra coisa infinitamente mais bonita e saudosa, que nós já vimos no céu antes de nascermos.

Exercícios com gabarito

Instrução para os exercícios de 1 a 10

Leia o texto a seguir e assinale com X as afirmações incorretas.

Há pessoas que imitam passarinhos, ou imitam atores, ou seus próprios pais, etc. Nós imitamos o que admiramos. Os poetas imitam a natureza quando descrevem uma tempestade ou uma cena da floresta. Numa pintura, a imitação é evidente. Vemos, por exemplo, desenhada num quadro, uma montanha. Esta só pode ser uma montanha imitada da natureza. Não podemos, claro, subir nela, nem cheirar suas flores. Mas admiramos a arte, a técnica com que foi pintada. Nós também nos servimos das palavras para imitar alguém, ou alguma coisa. Quem conta um fato reproduz impressões, imagens, acontecimentos ijue envolveram esse fato. Nossa linguagem procura imitar a realidade. Tudo o que falamos contém certa "pintura" daquilo que estamos pensando. Nós pintamos com palavras. Mesmo que não tenhamos essa intenção. Em princípio, pintar ou imitar com palavras não depende de nós, pois isso ocorre naturalmente em nossa linguagem. Quando dizemos "Maria está bonita", estamos pintando um fato, imitando esse fato com nossas palavras. 0 mesmo ocorre em "céu escuro", "mar bravio", "casa abandonada", "fatias de abacaxi", "sol escaldante", etc.
Todos, portanto, imitam. É imitando que se aprende, dizia Aristóteles. Os bichos também fazem isso. Imitam por instinto. Certas cobras fingem ser galhos de árvore, para melhor abocanhar os passarinhos. Os tigres são Jis— trados. Com isso imitam os bambuzais, onde costumam se esconder. O urso polar é branco. Sua pele imita a neve. Essa camuflagem, dada pela natureza, é chamada mimetismo, e mimetismo quer dizer "imitação".
Como a criança aprende a falar? Imitando o modo de falar de seus parentes. Como se produzem as belas ações? Imitando as atitudes alheias que consideramos belas. A imitação é natural no homem. Ayrton Senna não queria ser igual a Fangio. Mas aprendeu muita coisa com ele. É assim que nascem os vencedores: nascem da humildade, do aprendizado com quem sabe. Chico Buarque aprendeu com Vinícius. E Vinícius com Camões. E Camões com Virgílio. E assim por diante, desde o começo dos tempos. E toda vez que um artista verdadeiro imita um outro, ele estará também recriando, modificando o que recebeu do outro.
A imitação não se confunde com a coisa imitada. Há pessoas que não gostam de ver cobras ou leões.
Entretanto, gostam de ver esses bichos no cinema ou na pintura, onde são "transformados" pela técnica. Há quem odeie guerras, mas não se recusa a "guerrear" no videogame.
A imitação é fundamental à vida. Toda imitação implica semelhança. E só existe imitação quando algo se torna parecido a algo.
Platão, filósofo grego da Antiguidade, achava que todas as coisas são cópias de coisas perfeitas que estão no céu. Assim, por exemplo, todas as pedras imitam uma pedra perfeita que está no céu; todos os lápis imitam um lápis perfeito que está no céu; todas as mulheres são cópias de uma mulher perfeita que está no céu; e assim por diante. Não sabemos se Platão estava certo. Quem mais acredita nele são os amantes. Porque os amantes acreditam que sua paixão já vinha escrita nas estrelas. Os poetas que falam de amor também costumam ser platonizantes.

Adaptação de um texto de Aristóteles. Poética. Cap. IV.

1. (   X  ) A criança que imita seus pais demonstra intranquilidade ou falta de personalidade.
2. (   X   ) Platão foi o inventor da teoria artísticada imitação.
3. (       ) A imitação constitui um processo necessário na formação da cultura.
4. (   X   ) Os  artistas,  quando imitam,  revelam falta de originalidade.
5. (       ) A imitação dos animais difere da imitação humana por não ser inventiva.
6. (       ) A poesia é uma forma de imitação artística.
7. (   X  ) A linguagem não contém processos imitativos.
8. (   X  ) A imitação idealizante não tem nenhuma importância na vida.
9. (       ) Em geral, os amantes tendem a ver suas amadas da melhor forma possível, e isso revela influência da imitação idealizante.
10. ( X ) As imitações não passam de fantasias. Por isso, o homem nada aprende com elas.

Texto para os exercícios de 11 a 14

Num bosque que das ninfas se habitava
Sílvia, ninfa linda, andava um dia;
subida numa árvore sombria
as amarelas flores apanhava.

Cupido, que ali sempre costumava
a vir passar a sesta à sombra fria,
num ramo o arco e setas que trazia,
antes que adormecesse, pendurava.

A ninfa, como idóneo tempo vira
pêra tamanha empresa, não dilata,
mas com as armas foge ao Moço esquivo.

As setas traz nos olhos, com que tira.
- 0 pastores! fugi, que a todos mata,
senão a mim, que de matar-me vivo.

Luís de Camões. Rimas.

Comentário

Tal soneto possui símbolos da mitologia grega. Cupido infunde, com suas flechas, a paixão nas pessoas, e até nos deuses. À alegoria de Cupido, Camões acrescenta uma pequena narrativa: Sílvia, na árvore em que colhia as flores, viu as setas e o arco de Cupido, que se tinha posto a dormir. Como já estivesse em idade de amores, roubou do deus as armas, que miraculosamente se convertem nas setas de seu olhar ferino. Daí a advertência do poeta aos pastores, para que fujam de morte certa. Que fugissem todos, menos o poeta. Porque este, já apaixonado, vivia de matar-se a si mesmo.

11. Transcreva, da primeira estrofe, uma expressão que imite uma pintura.

12. Camões inventou ou imitou a figura de Cupido? Justifique.

13. Qual o erro de Cupido?

14. Sílvia utilizou as flechas roubadas? De que modo?

Texto para o exercício 15

O fato de Eros ser uma criança simboliza, sem dúvida, a eterna juventude de um amor profundo, mas também uma certa irresponsabilidade. Em todas as culturas, a aljava [estojo para guardar setas], o arco, as flechas, a tocha, os olhos vendados significam que o AMOR se diverte com as pessoas de que se apossa e domina, mesmo sem vê-las (o amor, não raro, é cego), ferindo-as e inflamando-lhes o coração. O globo que ele, por vezes, tem nas mãos, exprime sua universalidade e seu poder.

Junito Brandão. Mitologia grega.

15. A forma como Eros (Cupido) se comporta em Camões traduz as características principais desse deus? Justifique a resposta.

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