Trovadorismo - Contexto histórico-cultural

Ao longo deste bimestre trabalhei, dentre outras coisas, com o período literário denominado Trovadorismo. Entre seminários, análise de poemas e declamações, compreendemos a importância deste período literário. Estamos muito distantes - no tempo - da produção trovadoresca; no entanto, é preciso considerar que autores como o romântico Gonçalves Dias e o modernista Mário de Andrade sofreram influência dos textos dos trovadores e produziram poemas magníficos à maneira daquele tempo.
E mais ainda: toda época literária é rica porque os poetas e prosadores sempre têm muito a dizer: o que lhes vai na alma, reflexão sobre o mundo que habitaram, maneira especial de nele estar.

TrovadorismoContexto histórico do Trovadorismo



No final do século XI (1094), d. Afonso VI, rei de Leão, casa suas duas filhas: Urraca - a quem coube o território do que hoje se define como Espanha, com o Conde Raimundo de Borgonha - e Teresa (d. Tareja), filha bastarda, que recebe em casamento d. Henrique, obtendo do pai, como presente de núpcias, o Condado Portucalense, pequeno território entre os rios Minho e D'Ouro, um verdadeiro "presente de grego" àquela época, posto ter as costas banhadas inteiramente pelo Atlântico em um tempo de escassas navegações.
Em 1112(14) morre d. Henrique; d. Teresa alia-se aos galegos, muito especialmente ao famoso Conde Fernão Peres de Trava. O infante d. Afonso Henriques insurge-se contra a mãe, o que termina com a Batalha de S. Mamede, em 24 de junho de 1128. Os revoltosos coroam o infante o primeiro rei de Portugal; mas somente em 1143, na Conferência de Samora, Afonso VII, bisavô de Afonso Henriques, reconhece-o como rei de Portugal e, por conseguinte, reconhece também Portugal como Estado independente.
Até essa ocasião, o condado pertencera à Galiza, no reino de Leão, e tinha como centro irradiador de cultura, leis, artes e religiosidade, a cidade de Santiago de Compostela: lá estudaram todos os nobres do tempo.
Longo tempo seria transcorrido até que Portugal pudesse verdadeiramente ser Estado independente; décadas e décadas se passaram na Guerra da Reconquista quando, por fim, já no século XIII, durante o reinado de Afonso III, os sarracenos são expulsos em definitivo do território lusitano.
Mesmo durante a época em que aquele país dedica-se constantemente à guerra, houve efusiva e não descontínua produção literária: e é da Provença, região meridional da França, a maior influência para a composição, sobretudo das cantigas de amor:
"A influência dos trovadores e jograis da Provença veio assim dar foros de poesia palaciana a uma tradição jogralesca local, de origem popular, e a enxertar-se na cepa galega. Deste cruzamento derivam as características próprias das (“cantigas de amor”, em que o senhor aristocrata exprime as convenções do amor cortês - divinização da mulher, constância tímida e submissa do amante, encarecimento do sofrimento do amor, etc — uma linguagem um tanto artificial, esmaltada em termos provençais."
(O. Lopes e Á. J. Saraiva,* História da Literatura Portuguesa)
Historicamente, em que época acontece o Trovadorismo? A resposta é simples: durante a Idade Média, em pleno feudalismo. Pois bem, é preciso considerar ter havido realmente o feudalismo em Portugal?
Leia a seguir o posicionamento de uma autoridade no assunto, José Hermano Saraiva, no livro História Concisa de Portugal:
"A nobreza reconstituída depois da reconquista exercia um domínio que declinava com a latitude: mais intenso na Galiza, diminuía no Entre Douro e Minho e mal se fazia sentir ao sul do Douro, onde predominavam as populações dispersas e sem senhor e as organizações municipais. [...]
A localização das beetrias confirma isto mesmo. A beetria é um tipo de organização intermediária entre o concelho e o senhorio feudal; os moradores da aldeia ou da região dependiam de um senhor nobre, mas tinham o direito de o eleger. Ora, as beetrias, numerosas na Galiza, são já raras no Minho e quase não existem para o sul do Douro. Por essa mesma ordem vai crescendo em relação a elas a proporção dos concelhos, comunidades de moradores em que o senhorio era exercido coletivamente pelos próprios vizinhos."


É isso. Em nosso próximo artigo falaremos um pouco mais sobre Trovadorismo, mais especificamente sobre a língua falada naquela época.

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3 Comentários

  1. So um uma sugestao,linguagem muito rebuscada,o ideal seria "traduzi-la" para uma linguagem mais proxima do coloquial e de maneira que os estudantes pudessem absorver melhor.Este texto fala..fala e nao diz nada.
    Obrigada,

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  2. Ótimo artigo. Estou ansioso para o próximo!

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