Manoel de Barros – Enem - Questão comentada

treino-redacao-enem_2013Hoje  a dica é bem rápida. Muitos alunos me questionam sobre técnicas obscuras que veem no Youtube e muitos outros sites pela internet. Eu havia até construído uma introdução falando disso, mas acho que “alguns se ofenderiam” e não é o caso de colocar aqui minhas opiniões sobre quem se diz o dono do sucesso. O que farei, portanto, é trabalhar com vocês com uma questão do Enem. O propósito é comentar a resposta para que vocês tenham ideia de técnicas verdadeiras, ou seja, o que se deve fazer racionalmente por meio do estudo, quando for participar de algum concurso, vestibular ou mesmo do Enem 2013.

O poema de Manoel de Barros abaixo será utilizado para resolver uma questão.

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito
e aos seres desimportantes.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In: PINTO, Manuel da Costa. Antologia comentada da poesia brasileira do século XXI. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74.

É próprio da poesia de Manoel de Barros valorizar seres e coisas considerados, em geral, de menor importância no mundo moderno. No poema de Manoel de Barros, essa valorização é expressa por meio da linguagem

a) denotativa, para evidenciar a oposição entre elementos da natureza e da modernidade.
b) rebuscada de neologismos que depreciam elementos próprios do mundo moderno.
c) hiperbólica, para elevar o mundo dos seres insignificantes.
d) simples, porém, expressiva no uso de metáforas para definir o fazer poético do eu-lírico.
e) referencial, para criticar o instrumentalismo técnico e o pragmatismo da era da informação digital.

Comentário e resolução da questão do Enem 2013

Nesta questão foi desenvolvida a habilidade referente a “estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político”.  Vamos então à resolução da questão.

Essa é uma daquelas questões que podem ser respondidas por eliminação e quase que sem a leitura do texto, desde que certos conceitos, como funções da linguagem, neologismo e figuras de estilo sejam compreendidos.

A alternativa A é descartada ao afirmar que, no poema, predomina a linguagem denotativa; Manoel de Barros, como todos os bons poetas, explora, e muito, a linguagem conotativa. O item B é inválido, uma vez que entra em contradição com o início do enunciado ao afirmar que o autor se utiliza de linguagem "rebuscada de neologismos que depreciam elementos próprios do mundo moderno." Há, na verdade, somente o neologismo "invencionática" que aparece como oposição aos elementos do mundo moderno. Oposição, obviamente, difere de depredação.

A alternativa C não faz sentido pois o poeta não se apoia em hipérboles; ao contrário, como afirma a questão, opta pelas coisas de "menor importância no mundo moderno" Talvez a expressão "Meu quintal é maior do que o mundo" possa confundir o leitor desatento; trata-se, na verdade, de uma metáfora que estabelece intertextualidade com Fernando Pessoa, quando este afirma: "É mais livre e maior o rio da minha aldeia". Somente a opção D atende com precisão aos recursos utilizados pelo autor. A alternativa E também está incorreta, considerando que a função referencial (denotativa) tem a intenção de ser clara e objetiva ao transmitir informações, característica não pertinente ao poema de Manoel de Barros.

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