A origem da literatura e dos gêneros

A literatura surge para atender à necessidade humana de compreender melhor a realidade e de transmitir experiências. Todas as culturas, em todo o mundo, desenvolveram sua própria literatura que, inicialmente, era oral. O registro escrito da literatura, ou seja, a literatura escrita, como é conhecida hoje, foi produzida apenas num momento posterior.
Os textos literários dividem-se em gêneros. O conceito de gênero literário está ligado às formas e às funções dos textos escritos e tem sofrido inúmeras variações desde a Antiguidade Clássica até os nossos dias. A primeira teorização sobre os géneros data do século IV a.C. Naquela altura, desenvolveu-se na Grécia uma literatura diversificada e também uma primeira forma de organização dos gêneros que serviu de base para toda a literatura ocidental. Essa organização foi proposta por Aristóteles que, em uma obra chamada Poética, distinguiu três gêneros literários: o lírico, o épico e o dramático. Segundo a divisão aristotélica, cada um desses gêneros corresponderia à expressão de uma determinada experiência humana.
O gênero lírico tinha como objeto o mundo interior do poeta, sendo, portanto, o género mais subjetivo. Nele havia uma voz central que exprimia suas emoções e reflexões. Esse gênero se expressava por meio de poemas que costumavam ser relativamente curtos, já que, diferentemente da épica, expunham sentimentos em vez de narrar acontecimentos. São exemplos de poetas líricos gregos Alceu, Safo e Píndaro. Leia a seguir um trecho de um poema lírico da poetisa Safo:

Quando eu te vejo, penso que jamais
Hermíone foi tua semelhante;
que justo é comparar-te à loura Helena,
não a qualquer mortal; [...]

SAFO. Quando eu te vejo. Disponível em;
<
http://www.starnews2001.com.br/safo.html>.
Acesso em: 31 jan. 2008.

O gênero épico focalizava o mundo exterior ao poeta, sendo, por isso, mais objetivo que o gênero lírico. Com base na perspectiva de um poeta-observador, o mundo era descrito com seus acontecimentos, personagens e paisagens. Nas épicas gregas, sobressaíam heróis de caráter elevado, capazes de vencer todos os obstáculos, como Ulisses e Aquiles. O maior poeta épico grego foi Homero, autor dos poemas Odisseia e Ilíada, que se baseiam numa longa tradição oral e só assumiram forma escrita no final do século VI a.C.

Na Ilíada, Homero narra o cerco à cidade de Tróia, que durou dez anos. Na Odisseia, narra as aventuras do herói Odisseu (ou Ulisses) para retornar à sua casa após o término da Guerra de Tróia.

Você conhece a lenda de Penélope, a fiel esposa de Ulisses? Durante os 20 anos em que o marido esteve ausente devido à Guerra de Tróia e às aventuras que viveu na viagem de regresso e que retardaram a sua volta ao lar, Penélope sempre resistiu a quebrar os votos matrimoniais. Considerada como viúva, possuía muitos pretendentes, mas, para fugir a eles, fez saber que escolheria um novo marido apenas quando terminasse de tecer um manto fúnebre - a mortalha de Laertes, seu sogro, já bastante idoso. Penélope, então, pôs-se a tecer o manto; durante o dia, trabalhava no tecido; à noite, às escondidas, desmanchava tudo o que tecera durante o dia. Assim, enganou os pretendentes durante três anos, até que foi descoberta. Ulisses, porém, retornou a tempo de eliminar os pretendentes e proteger sua casa.

No trecho da Odisseia, transcrito a seguir, Penélope, mulher de Ulisses, descreve o reino dos sonhos ao Estrangeiro, que é, na realidade, o próprio Ulisses, que acaba de retornar ao seu lar disfarçado de mendigo.

E então a sábia Penélope respondeu-lhe novamente:

"Estrangeiro, os sonhos são verdadeiramente confusos,
ambíguos e, para os homens, nem tudo se cumpre.
Pois são dois os portões dos ténues sonhos:
um é feito de chifre, e o outro de marfim.
Os sonhos que passam através do            portão de marfim
enganam, trazendo promessas que não se cumprem;
mas, os que saem pelo polido portão de chifre,
esses se cumprem, para os mortais que os veem.

HOMERO. Odisseia. Disponível em: <http://greciantiga.org/mit/pt/t-mitO2b.asp>. Acesso em: 14 set. 2007.

O gênero dramático abordava os grandes e pequenos conflitos das relações humanas em peças teatrais que se dividiam em tragédias e comédias. Foram importantes dramaturgos gregos: Sófocles, Esquilo e Eurípedes, autores de tragédias, e Aristófanes, Plauto, e Terêncio, autores de comédias.

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