COMO A AMBIGUIDADE PODE MATAR SEU TEXTO

Sempre que falo em sala de aula sobre ambiguidade, trato disso como um erro que prejudica um texto. Isso decorre do fato de eu sempre “ensinar” como se escreve um bom texto. A ambiguidade é sim um problema que os textos podem apresentar e que se configura como um ruído da comunicação. Tratei disso no post AMBIGUIDADE É MESMO UM PROBLEMA NA INTERPRETAÇÃO? Voltei ao assunto porque recebi algumas mensagens justamente tratando disso.



ENTENDA TUDO SOBRE AMBIGUIDADE

A ambiguidade pode ser usada para obter um efeito de sentido no receptor. Se ela for produzida de forma involuntária e não tiver essa finalidade como recurso textual, será considerada indevida e inadequada por dificultar a compreensão do texto pelo interlocutor.
Para obter coesão e coerência é preciso, portanto, evitar essa ambiguidade, causada por pontuação imprópria, por problemas de construção textual e por emprego de palavras com mais de um sentido, que podem gerar, de forma não intencional, mais de uma possibilidade de interpretação. Veja este exemplo:

O computador tornou-se um aliado do homem, mas esse nem sempre realiza todas as suas tarefas.

O sentido da frase ficou ambíguo, porque as palavras esse e suas podem referir-se tanto a "computador" quanto a "homem". Tanto este quanto aquele podem não realizar o seu trabalho por completo.
Para que não ocorra ambiguidade, pode-se escrever essa frase assim:

O computador, apesar de ser um aliado do homem, não consegue realizar todas as tarefas humanas.

O exemplo que eu dei poderia ter sido encontrado em qualquer blog que tivesse como objetivo falar sobre os avanços na área de tecnologia. Para evitar que isso ocorra, observe alguns casos frequentes de ambiguidade, que podem ser problemáticos, e os sentidos possíveis de cada frase:

a)  Problemas com o uso de pronomes possessivos

Raquel preparou a pesquisa com Sílvio e fez sua apresentação. (Raquel fez a sua apresentação ou a de Sílvio?)

•  Raquel e Sílvio prepararam a pesquisa, e ambos fizeram a apresentação.
•  Raquel e Sílvio prepararam a pesquisa, e ele fez a apresentação dele.
•  Raquel e Sílvio prepararam a pesquisa, e ela fez a apresentação dela.

b)  Problemas com o uso de pronomes relativos

Visitamos o teatro e o museu cuja qualidade artística é inegável. (É o teatro ou o museu que possui qualidade artística?)

• Visitamos o teatro e o museu, os quais têm qualidade artística.
• Visitamos o teatro e o museu, e aquele tem qualidade artística.
• Visitamos o teatro e o museu, e este tem qualidade artística.

c)  Colocação inadequada de palavras

O cliente aborrecido recusou o vinho por causa da safra. (O cliente era aborrecido ou ficou aborrecido naquele momento?)

• O cliente recusou aborrecido o vinho por causa da safra.
• O cliente, que era aborrecido, recusou o vinho por causa da safra.

d)  Sentido indistinto entre agente e paciente

A recepção dos noivos foi no salão do clube. (A recepção foi oferecida pelos noivos ou eles foram recepcionados?)

• A recepção foi oferecida pelos noivos no salão do clube.
• Os noivos foram recepcionados no salão do clube.

e)  Uso indistinto entre o pronome relativo e a conjunção integrante

O motorista falou com o passageiro que era gaúcho. (O motorista era gaúcho ou o passageiro?)

• O motorista disse que era gaúcho ao passageiro.
• O motorista conversou com o passageiro gaúcho.

f)   Problemas com o uso de formas nominais

O pai viu o filho chegando em casa bem tarde. (Quem chegou em casa bem tarde: o pai ou o filho?)

• O pai viu o filho que chegava em casa bem tarde.
• O pai, ao chegar em casa bem tarde, viu o filho.

Você conhece situações em que a ambiguidade é desejável? Alguma piada que seja baseada na ambiguidade? Deixe-a aí nos comentários.


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3 Comentários

  1. conheço algumas placas:
    Corto cabelo e pinto.
    Vende-se carne para mulher sem pelanca.
    Vende-se pente para mulher de cabo.

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  2. Muito bem colocado. Não estou na ativa como estudante. Mas gosto muito de ler e escrever. As vezes me perco nas empolgações.

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