Vestibular da FUVEST - exercícios com gabarito [8]

Muitas vezes, o aluno por ter o melhor material, os melhores professores, um ambiente propício para o estudo, mas falta-lhe determinação. É preciso encontrar motivações que façam tudo isso se transformar na aprovação no vestibular. Conhecendo meus leitores, acredito que lhes falte apenas os bons exercícios. Aí está mais um.

A FLAUTA E O SABIÁ

Em rico estojo de veludo, pousado sobre uma mesa de charão, jazia uma flauta de prata. Justamente por cima da mesa, em riquíssima gaiola suspensa ao teto, morava um sabiá. Estando a sala em silêncio, e descendo um raio de sol sobre a gaiola, eis que o sabiá, contente, modula uma ária.
Logo a flauta escarninha põe-se a casquinar no estojo como a zombar do módulo cantor silvestre.
— De que te ris? indaga o pássaro.
E a flauta em resposta:
— Ora esta! pois tens coragem de lançar guinchos diante de mim?
— E tu quem és? ainda que mal pergunte.
— Quem sou? Bem se vê que és um selvagem. Sou a flauta. Meu inventor, Mársias, lutou com Apolo e venceu-o. Por isso o deus despeitado o imolou. Lê os clássicos.
— Muito prazer em conhecer... Eu sou um mísero sabiá da mata, pobre de mim! fui criado por Deus muito antes das invenções. Mas deixemos o que lá se foi. Dize-me: que fazes tu?
— Eu canto.
— O ofício rende pouco. Eu que o diga que não faço outra coisa. Deixarei, todavia, de cantar e antes nunca houvesse aberto o bico porque, talvez, sendo mudo, não houvessem escravizado se, ouvindo a tua voz, convencer-me de que és superior a mim. Canta! Que eu aprecie o teu gorjeio e farei como for de justiça.
— Que eu cante?!...
— Pois não te aprece justo o meu pedido?
— Eu canto para regalo dos reis nos paços; a minha voz acompanha hinos sagrados nas igrejas. O meu canto é harmoniosa inspiração dos gênios ou a rapsódia sentimental do povo.
— Pois venha de lá esse primor. Aqui estou para ouvir-te e para proclamar-te, sem inveja, a rainha do canto.
— Isso agora não é possível.
— Não é possível! por quê?
— Não está cá o artista.
— Que artista?
— O meu senhor, de cujos lábios sai o sopro que transformo em melodia. Sem ele nada posso fazer.
— Ah! é assim?
— Pois como há de ser?
— Então, minha amiga modéstia à parte vivam os sabiás! Vivam os sabiás e todos os pássaros dos bosques, que cantam quando lhes apraz, tirando do próprio peito o alento com que fazem a melodia. Assim da tua vanglória há muitos que se ufanam. Nada valem se os não socorrem o favor de alguém; não se movem se os não amparam; não cantam se lhes não dão gorjeia porque tem voz. E sucede sempre serem os que vivem do prestígio alheio, os que mais alegam triunfos. Flautas, flautas... cantam nos paços e nas catedrais... pois venha daí um dueto comigo.
E, ironicamente, a toda voz, pôs-se a cantar o sabiá, e a flauta de prata, no estojo de veludo... moita.
Faltava-lhe o sopro.
(Coelho Neto)

Do texto, pode-se inferir que a cena começa:
a) num recinto em silêncio.
b) ao ar livre, numa varanda iluminada pelo sol.
c) no paço real, com uma festa oferecida pelos cortesãos para regalar o monarca.
d) no adro de uma igreja, ao som dos hinos sagrados.
e) na prateleira de uma das salas ensolaradas de uma ruidosa loja de instrumentos musicais.

2) Dentre as seguintes expressões proverbiais, indique aquela que melhor se aplica ao texto "A flauta e o sabiá".
a) Gato escaldado tem medo de água fria.
b) Não se deve fazer continência com o chapéu alheio.
c) Patrão fora, feriado na loja.
d) Mais vale um pássaro na mão que dois voando.
e) Santo de casa não faz milagre.

3) Dentre as seguintes passagens do texto, assinale a que justifica o contentamento do sabiá:
a) "... riquíssima gaiola suspensa ao teto..."
b) "... sobre uma mesa de charão, jazia uma flauta...por cima da mesa...morava um sabiá..."
c) "...descendo um raio de sol sobre a gaiola..."
d) "Estando a sala em silêncio..."
e) "...o sabiá, contente, modula uma ária."

4) No texto, a expressão o deus refere-se a:
a) Apolo (o deus do sol) .
b) Mársias (o gênio da flauta) .
c) Orfeu (o deus da música).
d) Deus (criador do sabiá) .
e) o Senhor da flauta.

5) Com a frase Lê os clássicos, a flauta está sugerindo que o sabiá:
a) conheça os autores que foram contemplados com o Prêmio Nobel de literatura.
b) desconhece os compositores de música clássica.
c) deve ler os principais "best-sellers".
d) ignora a cultura greco-latina.
e) lê os clássicos brasileiros.

6) O sabiá desafiou a flauta a cantar porque:
a) quem canta para reis e para devotos nas igrejas canta para qualquer pessoa.
b) as flautas foram inventadas para cantar.
c) cantar era uma arte própria da flauta.
d) ele mesmo não conseguira abrir o bico.
e) a flauta havia menosprezado o talento dele.

7)

"...que não faço outra coisa."
"Que eu aprecie o teu gorjeio..."

Nas passagens acima, a palavra que pode equivaler, respectivamente, a:
a) já que e a fim de que.
b) se bem que e visto que.
c) posto que e até que.
d) ao passo que e sempre que.
e) desde que e ainda que.

8)

"Pois venha de lá esse primor".
"Não está cá o artista."
"...pois venha daí um dueto comigo."

Nos trechos acima, as expressões de lá, cá, daí podem equivaler, respectivamente, a:
a) de mim, contigo, dele.
b) de ti, comigo, de ti.
c) daquele lugar, neste lugar, dos paços.
d) daquele lugar, neste lugar, do artista.
e) da inspiração do gênio, aqui, das catedrais.

9) As expressões jazia, escarninha, módulo cantor podem ser substituídas no texto, respectivamente, por:
a) estava deitada, zombeteira, cantor melodioso.
b) estava morta, desafiante, cantor modesto.
c) estava calada, orgulhosa, cantor programado.
d) estava inerte, escarnecedora, cantor de ópera.
e) estava imóvel, esquiva, cantor famoso.

10) No contexto, encontram-se, entre várias outras, as seguintes formas verbais: vê, és, vai, venha. Se empregarmos, no futuro do subjuntivo, os verbos a que tais formas pertencem, teremos, respectivamente:
a) vir, fores, for, vier.
b) ver, seres, ir, vir.
c) vir, fores, fosse, viesse.
d) ver, seres, vá, virá.
e) verá, será, irá, virá.

11)

"... e antes nunca houvesse aberto o bico..."
"Assim da tua vanglória há muitos que se ufanam."

Na passagem acima, o verbo haver é, respectivamente:
a) auxiliar e auxiliar.
b) auxiliar e impessoal.
c) impessoal e impessoal.
d) principal e auxiliar.
e) principal e impessoal.

12)  "Disse o sabiá à flauta:
Eu, tu e o artista _________ de modo diferente; mas o artista e tu _________ de modo igual. Portanto, entre __________ e ___________ há uma grande diferença."
Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas do hipotético texto acima.
a) antam, cantais, mim, tu.
b) cantemos, cantam, eu, ti.
c) cantamos, cantas, eu, tu.
d) cantamos, cantais, mim, ti.
e) cantais, cantam, eu, você.

13)  Conterrâneo de Gonçalves Dias, Aluísio de Azevedo, Raimundo Correia e Humberto de Campos, nasceu Henrique Maximiniano Coelho Neto em 21 de fevereiro de 1864 e faleceu no Rio de Janeiro em 28 de novembro de 1934. Em que Estado nasceu Coelho Neto?
a) São Paulo
b) Rio de Janeiro
c) Bahia
d) Pernambuco
e) Maranhão

14)  "...Coelho Neto sobressai como a grande presença literária entre o crepúsculo do Naturalismo e a Semana de 22."
(Alfredo Bosi)
Indique a alternativa em que os escritores mencionados pertencem, respectivamente, ao movimento naturalista e ao da Semana de 22.
a) Manuel Antônio de Almeida e Euclides da Cunha
b) Aluísio de Azevedo e Guilherme de Almeida
c) Adolfo Caminha e Lima Barreto
d) Machado de Assis e Raul Pompéia
e) Franklin Távora e Monteiro Lobato.

15)  "Simultaneamente com Alencar, dois romancistas principalmente disputavam a atenção do nosso público, Joaquim Manuel de Macedo e Bernardo Joaquim da Silva Guimarães. Cronológica e literariamente, Macedo pertencia à primeira geração romântica...
Escritor copiosíssimo como, excetuado presentemente o Sr. Coelho Neto, não tivemos outro..."
(José Veríssimo)
Segundo o texto, pode-se dizer que:
a) Macedo e Coelho Neto pertenceram à primeira geração romântica.
b) Alencar e Coelho Neto pertenceram à primeira geração romântica.
c) José Veríssimo foi contemporâneo de Coelho Neto.
d) com exceção de Bernardo Guimarães, os escritores da primeira geração romântica, foram contemporâneos de Coelho Neto.
e) todos os escritores da primeira geração, excetuado Coelho Neto, foram românticos.

16)  "Simultaneamente com Alencar, dois romancistas principalmente disputavam a atenção do nosso público, Joaquim Manuel de Macedo e Bernardo Joaquim da Silva Guimarães. Cronológica e literariamente, Macedo pertencia à primeira geração romântica...
Escritor copiosíssimo como, excetuado presentemente o Sr. Coelho Neto, não tivemos outro..."
(José Veríssimo)

Depreende-se do texto que:
a) nenhum escritor foi tão copiado quanto Macedo.
b) a exemplo de Macedo, Coelho Neto foi autor de numerosa obra.
c) Macedo foi o escritor romântico que mais plagiou os seus colegas de geração.
d) Macedo copiou abundantemente a obra de Coelho Neto.
e) com exceção de Coelho Neto, os escritores da primeira geração romântica foram copiosíssimos.

17)  "Simultaneamente com Alencar, dois romancistas principalmente disputavam a atenção do nosso público, Joaquim Manuel de Macedo e Bernardo Joaquim da Silva Guimarães. Cronológica e literariamente, Macedo pertencia à primeira geração romântica...
Escritor copiosíssimo como, excetuado presentemente o Sr. Coelho Neto, não tivemos outro..."
(José Veríssimo)

Assinale a alternativa em que são mencionadoas, respectivamente, obras de Alencar, Macedo e Bernardo Guimarães.
a) Iaiá Garcia, O Cortiço, Caetés
b) Senhora, A Escrava Isaura, Inocência
c) A Moreninha, O Guarani, Iracema
d) O Gaúcho, A Luneta Mágica, O Seminarista
e) O Guarani, São Bernardo, Navio Negreiro

18)  As observações abaixo foram colhidas de críticos literários. Assinale aquela em que o crítico não deixa de fazer restrições ao autor de "A flauta e o sabiá".
a) "... o culto da arte da expressão... levou romancistas e contistas (no caso de Coelho Neto é bem típico) a fazer do acabamento formal um apaixonado ideal."
b) "A fortuna crítica de Coelho Neto conheceu os extremos do desprezo e da louvação..."
c) " ... e vigoroso pelas qualidades estilísticas e pelo domínio do léxico (glória que o leitor pode não compreender, mas não pode deixar de reconhecer) ..."
d) "Também não parece lícito negar-lhe o Dom de um genuíno talento expressivo..."
e) "Não resta dúvida de que o fecundo escritor, mas de imaginação relativamente escassa e de capacidade de observação um tanto apressada ou superficial, revela apreciáveis qualidades de criador..."

19)  "Pode-se apontar no Euclides manipulador do verbo o contemporâneo de Rui e de Coelho Neto, o leitor intemperante do dicionário à cata de termo técnico ou precioso. Mas é na semelhança que repontará a diferença: onde o orador loquaz e o palavroso literato buscavam o efeito pelo efeito, o homem de pensamento, adestrado nas ciências exatas, perseguia a adequação do termo à coisa..."
(Alfredo Bosi)

O homem de pensamento, o palavroso literato e o orador loquaz referidos no texto são, respectivamente:
a) Coelho Neto, Euclides da Cunha e Rui Barbosa.
b) Euclides da Cunha, Coelho Neto e Rui Barbosa.
c) Coelho Neto, Rui Barbosa e Euclides da Cunha.
d) Rui Barbosa, Euclides da Cunha e Coelho Neto.
e) Euclides da Cunha, Rui Barbosa e Coelho Neto.

20)  "Tratava-se de desmatar, de desatravancar do caminho os velhos mastodontes que já tinham morrido sem se dar conta disso. De provocar os basbaques, coelhonetóides e afins que ainda viviam no século passado."
O texto acima poderia ser:
a) um ataque de Oswald de Andrade aos medalhões do Pré-modernismo.
b) um ataque de Olavo Bilac aos escritores modernistas.
c) um ataque de José de Alencar ao bucolismo arcádico.
d) um ataque de Monteiro Lobato aos "papas" do concretismo.
e) um ataque de Manuel Bandeira aos "antropófagos" de 1922.

21)  Sobre a obra de Coelho Neto, observa Alfredo Bosi:
"Em 1893, saiu seu primeiro romance: A Capital Federal. A simples conferência das datas afasta a hipótese de tomar como fontes A Cidade e as Serras e A Capital..."

A Cidade e as Serras e A Capital foram escritos:
a) por Alexandre Herculano.
b) respectivamente por Artur Azevedo e Almeida Garret.
c) por Eça de Queirós.
d) respectivamente por Eça de Queirós e Karl Marx.
e) respectivamente por Camilo Castelo Branco e Antero de Quental.

22)  "Luísa sabia-o. Porque o conselheiro, o Conselheiro Acácio, nunca vinha aos chás de D. Luísa, como ele dizia, sem ter ido na véspera ao ministério de obras públicas procurar Jorge..."
Na passagem acima aparece uma personagem que se tornou célebre como símbolo de:
a) vacuidade e convencionalismo.
b) probidade e originalidade.
c) generosidade e simpatia.
d) espontaneidade e franqueza.
e) sagacidade e espírito crítico.

23)  Sobre o estilo de Coelho Neto:
"Pode-se mesmo dizer... que o seu maior compromisso é com a linguagem, presa à tradição dos prosadores seiscentistas, donde o excessivo aportuguesamento do estilo."
(Antonio Candido e J. Aderaldo Castello)

É obra representativa da prosa seiscentista:
a) Monólogo do Vaqueiro, Gil Vicente.
b) Os Lusíadas, de Camões.
c) Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano.
d) Nova Floresta, de Manuel Bernardes.
e) Frei Luís de Souza, de Almeida Garret.

24)  "Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair são os que se contentam com pregar na pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura: aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura, a hão-lhes de contar os passos. Ah! dia do juízo! Ah! pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos...".
A passagem acima é representativa de uma das tendências estéticas típicas da prosa seiscentista, a saber:
a) o sebastianismo, isto é, a celebração do mito da volta de D. Sebastião, rei de Portugal, morto na batalha de Alcácer-Quibir.
b) a busca do exotismo e da aventura ultramarina, presentes nas crônicas e narrativas de viagem.
c) a exaltação do heróico e do épico, por meio das metáforas grandiloqüentes da epopéia.
d) o lirismo trovadoresco, caracterizado por figuras de estilo passionais e místicas.
e) o conceptismo, caracterizado pela utilização constante dos recursos da dialética.

GABARITO DOS EXERCÍCIOS DA FUVEST

1 A ,2 B ,3 C ,4 A ,5 D ,6 E ,7 A ,8 B ,9 A ,10 A ,11 B ,12 D ,13 E ,14 B ,15 C ,16 B ,17 D ,18 E ,19 B ,20 A ,21 C ,22 A ,23 D ,24 E ,

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