Aprenda mais sobre comunicação com o Calvin

Tenho falado em minhas aulas nos primeiros anos de Ensino Médio que a interpretação de texto vai muito além da simples leitura da palavra. É necessário levar em consideração diversos fatores relacionados ao contexto de produção. Dentre eles, precisamos observar quem são os interlocurores, a época de produção do texto, o humor dos participantes, intenções do enunciador e muitos outros elementos que não cabem numa aula simples de Português muito menos num post curto como este se propõe a ser.

Já até publiquei esquemas nos quais é possível possível observar que tanto para o falante como para seu interlocutor são apontados diversos conhecimentos e características que vão interferir no processo comunicativo. A competência comunicativa, isto é, a habilidade que um indivíduo tem para lidar com a linguagem, seja para formular enunciados (no caso do falante), seja para atribuir sentido a eles (no caso do interlocutor), envolve o conhecimento de uma determinada língua, suas variantes e registros. Se um falante formular um enunciado em japonês, por exemplo, para um interlocutor que desconhece essa língua, não se completará o processo comunicativo; se um falante formular um enunciado em um registro ultraformal para um interlocutor de apenas cinco anos de idade, muito provavelmente o processo comunicativo não será inteiramente efetivado.

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Ele sempre aparece nas provas de Português. Mais que Camões.

A ideologia e a cultura dos participantes estão presentes na formulação e na leitura de um texto, condicionando e limitando as duas atividades, pois incluem o conjunto de crenças, representações e avaliações do mundo e da vida.

O aspecto psicológico retrata as influências variáveis do humor, da sensibilidade, da capacidade de tolerância, etc. de cada indivíduo no momento exato do processo comunicativo. Muitas vezes, um mesmo enunciado pode ser formulado de maneiras distintas, em momentos diferentes, por um mesmo falante, e também pode ser lido e interpretado de maneiras distintas por um mesmo interlocutor.

A tipologia textual condiciona a formulação do enunciado a modelos preexistentes. Dessa maneira, o falante deve conhecer as particularidades de um tipo textual, adequando sua mensagem a ele, assim como o interlocutor também deve conhecê-las para poder fazer a leitura da mensagem e compreendê-la.

Podemos concluir, então, que o falante deve, além de observar suas próprias capacidades e características, prestar muita atenção nas capacidades e características de seu interlocutor. Quanto mais comuns forem as características do falante e do interlocutor, maior o êxito do processo comunicativo.

Assim chegamos a um outro conceito: adequação - noção fundamental para a interação social.

Em consequência da complexidade que envolve a enunciação, ou seja, o ato comunicativo efetivo, os conceitos de "certo" ou "errado" tornam-se demasiadamente superficiais. É necessário considerar um novo conceito: a adequação. Um enunciado pode ser considerado adequado quando é apropriado aos elementos presentes no processo de comunicação. E isso deve sempre ser levado em conta quando fazemos exercícios de interpretação de textos de revisão para o Enem, por exemplo.

Entende-se que o uso que cada indivíduo faz da língua depende de várias circunstâncias: do que vai ser falado (assunto), do meio utilizado (canal), do contexto (ambiente espaço-temporal), do nível sociocul-tural de quem fala e, importantíssimo, de quem é o interlocutor (ou seja, para qual pessoa se está falando). Isso significa que a linguagem do texto deve estar adequada à situação, ao interlocutor e à intencionalidade do falante. Assim, seria inadequado um professor universitário, por exemplo, fazer uma palestra para alunos do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental empregando palavras eruditas, desenvolvendo argumentos complexos e estruturas sintáticas muito elaboradas - ele não seria compreendido por seus interlocutores.

Vamos aos exercícios?

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1. Ao ler a tirinha, você pôde perceber que há uma diferença muito grande entre as falas dos personagens nos três primeiros quadrinhos e no último.

a)  O que marca essa diferença?
b)  Quem são os falantes?

2.  Explique o que Calvin quer dizer com "língua de gente". Justifique.

3. Classifique o emprego do nível de linguagem dos três primeiros quadrinhos nos seguintes contextos situacionais, levando em consideração a adequação:
a)  nas falas dos personagens de uma peça de teatro de um escritor português do século XVI;
b)  nas falas de um diálogo entre um empregado e seu chefe no século XXI;
c)  nas falas de um bate-papo pela internet.

Gabarito dos exercícios

1. a) O emprego do pronome pessoal vós, do pronome possessivo vosso, as conjugações na segunda pessoa do singular e do plural, o emprego do tempo verbal pretérito perfeito composto, etc. Já no último quadrinho há o emprego do pronome você.

b) Os três primeiros quadrinhos reproduzem falas dos atores do programa de televisão (filme?, novela?) a que Calvin e sua mãe estão assistindo.

2. Para Calvin, "língua de gente" é a variante da língua que ele utiliza, e não a que os atores do programa estão usando.

3. a)  adequada
b)  inadequada
c)  inadequada

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