Máquinas burras – exercício de gramática

Já falamos aqui várias vezes que a interpretação de textos depende de vários fatores que fogem, muitas vezes, da sala de aula. O conhecimento de mundo do aluno, sua intimidade coma  leitura, discussões direcionadas em casa, tudo isso serve para que o aluno seja mais maduro ao estar em contato com o texto. A proposta de exercício de interpretação de textos que coloco abaixo fala um pouco disso. Mais que propor o exercício, espero que vocês se alimentem com a leitura e que tentem respondê-las. Se por ventura alguém quiser tentar fazer isso e submeter-se à análise dos leitores do blog, poderá deixar a resposta aí nos comentários. O que espero é que os leitores competentes aqui do site não se limitem a pedir o gabarito. Está na hora de arriscarmos mais.

Exercício de interpretação sobre o texto “Máquinas burras”

Em 1985, o secretário de Educação de Novo Hamburgo (Grande Porto Alegre) reuniu 500 professores num Centro de Tradição Gaúcha, serviu a todos arroz à carreteiro e apresentou uma novidade: o computador.
Caiu do cavalo quem imagina que o belga Ernest Sarlet, o secretário, fez um endeusamento da máquina. Entregou aos professores algo que considerava mais importante que o computador: o livro "Educação e Mudança", de Paulo Freire.
Hoje, Novo Hamburgo tem uma das melhores redes municipais de ensino do País por causa dessa atitude. O computador não é a principal razão do sucesso, segundo Léa Fagundes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É que mudou a concepção de educação.
A proposta parte da ideia de que a criança não é um copo vazio a ser preenchido com o conhecimento dos professores. A ideia é estimular a curiosidade inata do aluno. O estímulo se dá por meio de projetos com teatro, horta, criação de peixes, música e informática - o mais procurado de todos.
No laboratório de informática, cursado por 3 mil alunos de 1º grau a cada semestre, as crianças são lembradas de que o computador é uma máquina burra e elas terão de ensiná-lo.
"A desmistificação do computador muda tudo: a criança descobre que pode pensar, inventar, resolver problemas. É a melhor máquina para testar hipóteses", diz Léa Fagundes, que pesquisa o uso de tecnologia em educação.
A mudança quase eliminou a repetência. Em 1985, 5,58% dos alunos abandonavam a escola sem concluí-la. Em 1996, a taxa caiu para 1,3%, menor do que a da Suíça (2%).
Há, em Porto Alegre, uma experiência mais radical que a de Novo Hamburgo. Os alunos da 5ª série do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul não têm a clássica divisão de disciplinas (Português, Matemática, Ciências, etc). Estudam a partir de projetos - planeta Terra e pontos de vista foram dois temas eleitos pelos próprios alunos. "O professor se torna um aprendiz junto com o aluno", conta Mônica Estrázulas, uma física que faz mestrado em Psicologia e dá aulas no colégio.
O computador é usado para ordenar o conhecimento. Os alunos vão criando páginas para a Internet a partir do assunto estudado. Às vezes, um só professor dá aula, às vezes, são três. "É bem maluco, mas a escola tem de mudar porque do jeito que está não serve para quase nada", diz Estrázulas.

Mário César Carvalho, Folha de S. Paulo, 13 de fevereiro de 1998.

1. Observe o uso do verbo cair em contextos diferentes e explique o seu significado:
a)   Caiu do cavalo quem imagina que o belga Ernest Sarlet, o secretário, fez um endeusamento da máquina.
b)   Ele caiu no laço direitinho e já está casado.
c)   Consegui não cair em tentação.
d)   O novo intérprete caiu nas graças do público.
e)   Caiu em si e retirou suas ofensas.

2. O adjetivo clássico, do latim classicus, apresenta pequenas diferenças de significado. Leia as frases e estabeleça essas diferenças:
a)   Os alunos não têm a clássica divisão de disciplinas...
b)   O curso de Literatura Clássica teve muita procura.
c)   Roupas clássicas ficam muito bem naquela senhora.

3. Leia os significados da palavra radical:

Radical, adj., 2 gên. Referente à raiz; fundamental; essencial; s.m. que é partidário do radicalismo (reformas absolutas); parte invariável de uma palavra; símbolo da operação radiciação V (Mat.); (Quím.) grupamento de átomos, que caracterizam uma função, tendo valência própria.

Agora dê o significado da palavra radical nas seguintes situações:
a)   A parte radical dessa planta é muito diferente.
b)   Há, em Porto Alegre, uma experiência mais radical que a de Novo Hamburgo.
c)   Sua atitude foi muito radical na hora de votar.
d)   O radical do verbo amar é am.
e)   As operações com radicais são complexas.

4. Qual é o antônimo da palavra destacada na frase abaixo?

A desmistificação do computador muda tudo: a criança descobre que pode pensar, inventar, resolver problemas.

5. Empregando o mesmo prefixo, dê o antônimo das seguintes palavras:
a) aconselhar
b) afinar
c) autorizar
d) cobrir
e) motivar
f) embaralhar
g) intoxicar
h) abotoar
i) acreditar
j) ajustar
I) povoar
m) concentrar
n) centralizar
o) encantar
p) infectar

Questões de interpretação sobre o texto “Máquinas burras”

O que diz o texto?

1. Em que foi diferente, em relação ao computador, a atitude do secretário de Educação de Novo Hamburgo (RS) em 1985, Ernest Sarlet?

2. Como a proposta de ensino de Novo Hamburgo encara a relação criança-computador?

3. Quais foram as consequências da implantação do projeto de Novo Hamburgo?

4. Por que a experiência de Porto Alegre é mais radical que a de Novo Hamburgo?

Você dá sua opinião

1. Você concorda com a afirmação de que o computador é uma "máquina burra"? Por quê?

2. Você acha que as experiências de Novo Hamburgo e Porto Alegre podem ser aplicadas a qualquer lugar? O que vê de positivo e negativo nas duas?

3. Como você se sentiria estudando por meio de projetos, sem a divisão de disciplinas (Português, Matemática, Ciências, História, Geografia, etc.)? Você acha esse método viável e completo? Por quê?

4. Que mudanças seriam necessárias no ensino para que o sistema de estudo por meio de projetos desse resultado?

Proposta de produção de texto

Sugira esta proposta para que os alunos trabalhem, num primeiro momento, em grupo e depois individualmente.

Uma das críticas à escola brasileira é que ela não acompanhou a evolução tecnológica e social, ficando distante das necessidades dos alunos e da sociedade em geral. Você concorda com isso? Como seria a escola ideal para você e seus colegas? É possível haver um modelo de escola válido para todo o Brasil? Em termos práticos, o que poderia ser feito?

A partir dos resultados da discussão com seus colegas, redija uma dissertação, escolhendo um título e um tema sobre a escola e a educação no Brasil. Apresente seu texto à classe e exponha-o no mural da sala.

Sugestões de leitura para aprofundar no assunto

  • Liberdade virtual de Sylvio Gonçalves Saraiva
  • Pai sem computador Amílcar Neves Atual

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