Estudar cientificamente a língua?

Eu até tentei. Ninguém poderá me acusar de não ter tentado criar uma introdução legal para este post, mas quando estava no segundo parágrafo da introdução [sim, já não era apenas introdução] eu apaguei tudo e vim admitir minha incapacidade de comentar o fato dos estudantes darem mais importância ao estudo das “ciências exatas” em detrimento das “humanas”. Por isso mesmo escolhi um texto que aborda o estudo da língua de forma científica. Leia, pense, faça os exercícios propostos e confira o gabarito depois.

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Língua é objeto de investigação científica

A cada dia os estudantes têm demonstrado mais curiosidade pelo campo de estudo da Linguística. O interesse vem revelar tanto o desconhecimento dessa área do saber como o seu crescente prestígio, que já a faz sair de relativa obscuridade.

A linguística lança sobre o idioma, seu objeto de estudo, o olhar da ciência, com seu método investigativo de observação dos fenômenos e total ausência de preconceito, condições preliminares para a busca do conhecimento.

Essa isenção, aliada à disposição de descobrir o real funcionamento das línguas e os fatores intralinguísticos e extralinguísticos que o regem, faz que a linguística não trabalhe com os conceitos de "certo" e "errado", Elabora uma gramática descritiva em lugar de uma gramática prescritiva.

Por ser uma ciência, a linguística não é sensível às preocupações com o suposto risco de "decadência" do idioma, visto que, por sua natureza, a língua só assimila as transformações que lhe são úteis e necessárias. Assim, a defesa intransigente da norma culta - o padrão dos estratos mais bem-sucedidos na sociedade - entendida como o único modelo de correção, pode levar ao reforço de certos preconceitos associados a usos linguísticos próprios de camadas economicamente desfavorecidas.

A linguagem espontânea é igualmente alvo do interesse da linguística, pois ela representa a língua viva, em ação. Já a norma tida como culta é preservada graças a uma atitude disciplinadora que se apoia em certos cânones.

Afiança-se na tradição, explicação última para a escolha de uma forma em detrimento de outra. Mas a própria literatura - fornecedora dos modelos de realização linguística - incorporou definitivamente elementos da linguagem oral.

Diante disso, o estudo das possibilidades oferecidas pela norma culta conserva sua importância em virtude de a expressão, sobretudo, de conteúdos complexos e racionais, servir-se das estruturas que a história e a cultura nos põem à disposição. Não se trata de abandonar o passado - como se fosse possível renegar a história - tampouco de substituir uma construção por outra como mera afirmação de um saber como valor em si. Trata-se antes de acrescentar à capacidade linguística alternativas de expressão não intuitivas ou menos espontâneas e mais sutis, mantendo um constante diálogo com a história. A linguística contribui, assim, para uma compreensão do fenômeno linguístico como parte indissociável da cultura.

CAMARGO, Thaís Nicoteti de. Folha de S, Paulo. 22 ago. 2002.

1. (UFPE) Conforme o texto, "a linguística elabora uma gramática descritiva em lugar de uma gramática prescritiva". Essa ideia é apresentada, com outras palavras, em uma das alternativas a seguir. Assinale-a.

a)   A linguística objetiva investigar os fenómenos linguísticos e descobrir o seu funcionamento, não se preocupando com as noções de 'certo' e de 'errado'.
b)   A linguística é uma ciência e, como tal, objetiva orientar a elaboração das gramáticas prescritivas, para que os falantes dominem as normas que regem sua língua.
c) A preocupação precípua da linguística é a de manter a tradição da língua, para preservação dos modelos fornecidos pelas formas clássicas da Literatura.
d) É interesse da linguística defender os padrões da norma culta e elaborar as regras que definem a manutenção dos estratos sociais mais aceitos e bem-sucedidos.
e)  A linguística  investiga  os conteúdos  oriundos  da história e da cultura, com o objetivo de estabelecer as normas que regulam o melhor uso da língua.

2. (UFPE) Pelas considerações feitas no texto, podemos afirmar que a linguística

1) configura-se como uma ciência, que tem como objeto de investigação a língua.
2) observa os fenómenos linguísticos numa perspectiva desprovida de julgamentos valorativos.
3) como objetiva investigar o funcionamento das línguas, interessa-se também pela linguagem espontânea.
4) tem como uma de suas preocupações básicas a manutenção da língua nos padrões mais bem-sucedidos socialmente.

Estão CORRETAS

a) 1 e 2 apenas.                     
b) 2 e 3 apenas.                     
c) 3 e 4 apenas.
d) 1, 2 e 3 apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.

3. (UFPE) A norma culta, segundo afirma o texto,

a) corresponde ao padrão responsável pelo suposto risco de decadência do idioma.
b) em sua defesa, propicia a lenta superação de muitos preconceitos sociais e linguísticos.
c) deve ser entendida como o único modelo capaz de regular a comunicação linguística.
d) rejeita definitivamente modelos de realização derivados dos usos da linguagem oral.
e) para sua preservação, assume uma atitude discipli-nadora, apoiada em certos padrões.

4. (UFPE) Assinale a alternativa em que as palavras sublinhadas são semanticamente equivalentes.

a) "a faz sair de relativa obscuridade" (§ 1.°) - 'a faz sair  | de relativa dormência'.
b) "a defesa intransigente da norma culta" (§ 3.°) - 'a   | defesa descabida da norma culta'.
c) "se apoia em certos cânones" (§ 4.°) - 'se apoia em   | certas regras'.
d) "afiança-se na tradição" (§ 4.°) - 'desenvolve-se na   | tradição'.
e) "parte indissociável da cultura" (§ 5.°) - 'arte imprescindível da cultura'.

5. (UFPE) Sobre as relações semânticas presentes em enunciados do texto assinale a alternativa CORRETA.

a) Em "Por ser uma ciência, a linguística não é sensível às preocupações com o suposto risco de decadência do idioma", o segmento destacado antecipa uma justificativa.
b) Em "a linguística não é sensível às preocupações com o suposto risco de "decadência" do idioma, visto que, por sua natureza, a língua só assimila as transformações que lhe são úteis e necessárias", se o conectivo destacado for substituído por 'ainda que, o sentido permanece inalterado.
c) Em "A linguagem espontânea é igualmente alvo do interesse da linguística, pois ela representa a língua viva, em ação", o segmento destacado representa a consequência do segmento anterior.
d) Em "Não se trata de abandonar o passado — como se fosse possível renegar a história —, tampouco de substituir uma construção por outra", o elemento destacado tem valor comparativo.
e) Em "A linguística contribui, assim, para uma compreensão do fenômeno linguístico como parte indissociável da cultura", o elemento destacado marca uma mudança na direção argumentativa do texto.

Gabarito dos exercícios de interpretação de textos

1-A
2-D
3-E
4-C
5-A

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