Quem sai perdendo no fim da relação?

Raras são as vezes que um amor acaba de forma agradável para ambos os lados. Geralmente, ainda que de comum acordo, um sempre se sentirá “traído”, alguém sempre vai achar que perdeu, que se dedicou mais. Não deveria ser assim. Mas se Camões há tanto tempo afirmou que o amor é assim incompreensível, como podemos nós, tão “atacados” por tantos estímulos, querermos entender o que se passa no coração do outro. E é sobre isso que fala o texto no qual se baseia o exercício de hoje aqui no blog. Recomendo que, ainda que não queira fazer os exercícios, faça a leitura do texto da Adriana Falcão.

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O grande e o pequeno

Todo caso de amor tem sempre um grande e um pequeno.
[...] O pequeno ama, o grande se deixa amar. O grande fala, o pequeno ouve. O grande discorda, o pequeno concorda. O pequeno teme, o grande ameaça. O grande se atrasa, o pequeno se antecipa. O grande pede, ou nem precisa pedir, e o pequeno já está fazendo.
Não é uma questão de gênero. Existem homens pequenos e homens grandes, mulheres grandes e mulheres pequenas. O temperamento e as circunstâncias influem, mas não determinam. O grande pode ser o mais bem-sucedido dos dois ou não. O pequeno pode ser o mais sensível, mas nem sempre é assim. Muitas vezes o grande é mais esperto, mas existem pequenos espertíssimos. Depende do caso. [...]
Mas como tudo pode acontecer, senão nada disso ia ter graça, por alguma razão, geralmente à noite, imprevisivelmente, o grande pode ficar pequeno, e o pequeno ficar grande de repente. Basta um vacilo, um cair de tarde, um olhar mais assim, um furacão, uma inspiração, uma imprudência.
Quando isso acontece, é comum o pequeno ficar maior ainda, o que torna o grande ainda menor. O ex-pequeno, logo promovido a grande, pode se vingar do ex-grande, se o seu sofrimento tiver boa memória. [...]

FALCÃO, Adriana. O doido da garrafa. São Paulo: Planeta, 2003. p. 11-13. (Fragmento).

1- O sentido do texto acima é construído pelo uso de dois adjetivos que aparecem também substantivados. Quais são eles?

2- Com que intenção a autora do texto utiliza esses dois termos? Justifique.

3- Transcreva a passagem em que os dois termos não estão substantivados.

4- Por que, considerando o contexto, os dois vocábulos não foram substantivados nessa passagem?

5- Releia:

O grande pode ser o mais bem-sucedido dos dois ou não. O pequeno pode ser o mais sensível, mas nem sempre é assim. Muitas vezes o grande é mais esperto, mas existem pequenos espertíssimos.

a) O trecho acima explica a afirmação da autora de que, embora o temperamento de cada pessoa e as circunstâncias em que se encontram possam influenciar seu comportamento adotado por eles, não o determinam. Que expressões, na passagem transcrita, indicam características de temperamento e quais revelam uma circunstância?

b) O que significa, nesse caso, afirmar que esses elementos influem, mas não determinam o comportamento de cada um dos parceiros?

c) Que recurso linguístico, nessas expressões, foi utilizado para destacar as características e circunstâncias identificadas? Por quê?

respostas dos exercícios de Interpretação de Textos e Gramática

1- Grande e pequeno.

2- A autora utiliza os dois adjetivos para identificar o tipo de comportamento adotado pelas duas pessoas que integram um casal. Aquele definido como grande é caracterizado como a pessoa que tem uma posição de superioridade em relação a seu par amoroso: é aquele que detém o poder na relação entre os dois (é quem é amado, quem fala, quem discorda, quem ameaça, quem pede e quem recebe). O pequeno, portanto, está em uma posição de inferioridade e de submissão (é quem ama, quem ouve, quem concorda, quem teme, quem antecipa os desejos do parceiro) em relação ao grande.

3- " Existem homens pequenos e homens grandes, mulheres grandes e mulheres pequenas."; "...geralmente à noite, imprevisivelmente, o grande pode ficar pequeno, e o pequeno ficar grande de repente.

4- Porque a autora pretende demonstrar que a caracterização de alguém como grande ou pequeno não depende do gênero (masculino ou feminino) associado a esses termos. Na verdade, a autora se refere ao sexo das pessoas que podem ser qualificadas dessa forma. Por isso, usa os substantivos homens e mulheres determinados pelos adjetivos grande e pequeno, afirmando que o comportamento associado a cada um desses vocábulos independe do sexo a que pertence cada um dos integrantes do casal.

5- a) Há uma expressão que indica circunstância: o mais bem-sucedido. Já as expressões o mais sensível, o mais esperto e espertíssimos revelam aspectos do temperamento que podem caracterizar cada um dos parceiros.

b) A autora pretende demonstrar que a posição de inferioridade ou superioridade de cada um dos parceiros (ser grande ou pequeno no relacionamento; não esta diretamente associada a essas características ou circunstâncias. Não há, necessariamente, equivalência entre um dado de temperamento superior (ser mais esperto, por exemplo) e a posição de poder dentro da relação. Pode ser pequeno, no casal, aquele que é o mais bem-sucedido ou mais esperto. A sensibilidade também não é, obrigatoriamente, uma característica daquele que assume uma postura submissa na relação amorosa.

c) Em todas elas, identifica-se o uso do superlativo, já que a autora pretende destacar o fato de que uma qualidade ou uma circunstância aparece intensificada, de forma relativa ou absoluta, em um dos parceiros. As expressões o mais bem-sucedido, o mais sensível, o mais esperto exemplificam o superlativo relativo de superioridade, denotando que, no relacionamento, um dos parceiros se destaca em relação ao outro por apresentar a mesma qualidade em maior grau. Já espertíssimo (formado a partir do acréscimo do sufixo “-íssimo” ao radical do adjetivo esperto) é um superlativo absoluto sintético, que indica que um dos parceiros apresenta essa qualidade em alto grau (é muito esperto).

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