Texto: coerência e coesão textuais

Que é que faz perceber que um conjunto de frases compõe um texto? O primeiro fator é a coerência, ou seja, a harmonia de sentido de modo que não haja nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo, que nenhuma parte não se solidarize com as demais. Um outro fator é a ligação das frases por certos elementos que recuperam passagens já ditas ou garantem a concatenação entre as partes. Assim, em

"Não chove há vários meses. Os pastos não poderiam, pois, estar verdes",

"pois" estabelece uma relação de decorrência lógica entre uma e outra frase. O segundo fator é menos importante que o primeiro, pois, mesmo sem esses elementos de conexão, um conjunto de frases pode ser coerente e, portanto, um todo organizado de sentido.

Um texto é delimitado por dois brancos.

Se o texto é um todo organizado de sentido, ele pode ser verbal, visual (um quadro), verbal e visual (um filme), etc. Mas em todos esses casos ele será delimitado por dois espaços de não sentido, dois brancos, um antes de começar o texto e o outro depois. É o branco do papel; é o tempo de espera para que um filme comece e o que está depois da palavra "FIM"; é o momento em que o maestro levanta a batuta e o momento em que a abaixa, etc.

O texto é produzido por um sujeito num dado tempo e num determinado espaço.

Esse sujeito, por pertencer a um grupo social num dado tempo e num certo espaço, expõe em seus textos as ideias, os anseios, os temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social. Todo texto relaciona-se com a História, não no sentido de que narra fatos históricos de um país, mas no de que revela os ideais e as concepções de um grupo social numa determinada época. Cada período histórico estabelece certos problemas e os textos pronunciam-se sobre eles.
O texto de Murilo Mendes, que mostramos no post de ontem, revela o anseio de uma época em conhecer bem o Brasil, revelar suas mazelas para transformá-lo.
Não há texto que não mostre o seu tempo. Cabe lembrar, no entanto, que uma sociedade não produz uma única forma de ver a realidade, um único modo de analisar os problemas estabelecidos num dado tempo. Como a sociedade é dividida em grupos sociais, que têm interesses muitas vezes antagônicos, produz ideias divergentes entre si.

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