Avaliação de interpretação – Outro presente para a senhora


Em 2004, trabalhei com classes de 5ª a 8ª série. Dessa época, trago diversas atividades muito bem elaboradas que compartilho aqui com vocês. Hoje, trago uma avaliação de interpretação que pode ser usada como exercício de classe. Esta foi baseada num texto de Carlos Drummond de Andrade.
 
mulher presente  namorada ou esposa

Outro presente para a senhora

— Mãe, taqui seus chocolates!
— Que chocolates, meu anjo?
— A senhora não sabe que, no Dia das Mães, dê chocolate pra ela? Comprei um pacotão divino-maravilhoso-fora-de-série, pra senhora. Tem bombons, tabletes, figurinhas, pastilhas, drágeas... Um negócio, mãe! [...]
— Alfredinho, o médico me proibiu de comer chocolate.
— E daí? Esquece o médico. Não é Dia dos Médicos, é Dia das Mães, dia da senhora. Quando é que as mulheres vão se emancipar da tutela dos homens?
— E você não é homem, criatura? Você quer que eu seja independente comendo chocolate que você faz questão de me dar?
— Fico triste com a senhora.
— Fique não, querido. Vamos fazer uma coisa. Dê esse pacote tão lindo pra sua namorada.
— A Georgiana? A Georgiana não é casada nem mãe solteira, como é que eu vou dar presente a ela no Dia das Mães. Pega mal.
— Toda namorada merece ganhar presentes em qualquer dia do ano.
— Não posso dar chocolates a Georgiana.
— Não pode por quê?
— Engorda.
— Ah, muito bonito. Então a Georgiana não pode engordar, e eu, que sou mãe do namorado dela, posso, né?
— Não é nada disso, mãe. Também não quero que a senhora engorde, mas se engordar, problema do papai.
— O problema é meu antes de mais ninguém, ouviu? Ou você não acha mais que a mulher deve resolver por si mesma o que lhe convém ou não convém?
— Mas chocolate, uma coisa à-toa... Que importância tem isso? [...]
— É uma tentação, mas eu resisto.
— Eu ajudo a destruir o que tá aí dentro, mãe. [...]
— Nããããão. Leve pra Georgiana, já disse.
— Já vi tudo. A senhora quer ter uma nora de barrigona estufada de tanto comer chocolate, só pra ter o gosto de mostrar que a sogra dela é mais leve que manequim!
— Bandido, some da minha frente com essa porcaria, que eu não sou mais sua mãe!
(Carlos Drummond de Andrade. Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988.)

1. O texto lido é um diálogo. Qual é o tema da conversa entre a mulher e seu filho?
2. Por que ela recusa o presente?
3. Diante da recusa da mãe, que argumento o rapaz usa para tentar convencê-la a aceitar os chocolates e comê-los?
4. Em certo momento do diálogo, o rapaz diz: "— Eu ajudo a destruir o que tá aí dentro, mãe". O que ele quis dizer com isso?
5. Como você reagiria se, ao dar um presente para uma pessoa, ela o recusasse? Escreva sua opinião em 1ª pessoa, num texto de, no mínimo 10 linhas. Não inicie o texto dizendo: “Na minha opinião...”

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