O outro lado do mistério

Quantas vezes nos pegamos em atitudes um tanto quanto negativas. É o emprego que poderia ser melhor, o marido que poderia ser mais carinhoso, a esposa que poderia ser menos frígida e por aí vai. O interessante é que esse negativismo foi retratado na Literatura. Há quem não goste de Machado de Assis por ser ele um estudioso da alma humana e por mostrá-la sem as máscaras que o Romantismo insistiu em  usar.
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Machado de Assis é talvez o mulato mais famoso da nossa Literatura. De longe é o que mais reconhecimento obteve em vida. Isso não o livrou de sofrer e de mostrar isso em seus livros. O trecho abaixo é uma prova disso:
“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
Este é o trecho final de "Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Levando em consideração o conteúdo do livro e sua importância como marco inicial do Realismo no Brasil, vemos um Machado de Assis nos apresentando a expressões como “ao chegar a este outro lado do mistério”. Com ela o narrador se refere ao mistério da morte, pelo qual ele já passou. Esta é uma das características mais destacadas no estudo da obra… Conhecer o outro lado do mistério. Saber o que há por trás dos acontecimentos. Quantos de nós já tivemos o desejo de conhecer as intenções das pessoas com quem convivemos… quantos já não desejaram poder voltar no tempo e modificar algo que fizeram e que os fez sofrer as consequências negativas da escolha… Nunca poderemos fazer isso.

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3 Comentários

  1. Realmente, os caminhos são vários para escolhas, mas a partir da escolha está consumado.Podemos nos arrepender, refletir, dar conselhos, mas voltar atrás não dá. A vida não tem rascunho.Quem dera tivéssemos uma bola de cristal para podermos ver o futuro, o final do caminho escolhido e pudéssemos optar...Mas a beleza da vida também é isso, somos o que restamos física e emocionalmente de nossas escolhas.Ótimo post!

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  2. Difícil, não. O melhor mesmo é nos prepararmos, ainda que não vislumbremos nada a frente, para que no momento oportuno, estejamos prontos para agir como se deve. Obrigado pela visita, viu.

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  3. "quantos já não desejaram poder voltar no tempo e modificar algo que fizeram e que os fez sofrer as consequências negativas da escolha… Nunca poderemos fazer isso."

    È possível que você esteja enganado.(rs) Vá em www.variodoandarai.com.br, lá tem um um convite de lançamento do livro "A Máquina de Revelar Destinos Não Cumpridos". Se você estiver pelo Rio, dia 14, será um prazer recebê-lo lá

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