Exercício de interpretação de textos com gabarito [14]

A CPI E A IMPRUDÊNCIA DO LEGISLATIVO

Há mais de dez anos a magistratura clama por ampla  reforma do Poder Judiciário. Logo após sua instalação em 1987, um conjunto de sugestões oriundo de órgãos superiores da Justiça foi levado  ao exame da Assembléia Nacional Constituinte. Magistrados, membros do Ministério Público, juristas, conselheiros da Ordem dos Advogados do Brasil, professores, enfim a representação mais autêntica do universo jurídico sustentou na Assembléia debate ativo e esclarecedor sobre o tema. Mas o legislador constituinte ignorou as propostas mais consistentes para destinar ao Poder Judiciário os instrumentos aptos a levá-lo à progressiva dinamização de suas atividades. Conquanto o modelo que viesse a ser posto na Constituição não fosse suficiente para alcançar resultados automáticos, pelo menos abriria os espaços torizativos para as transformações futuras. Todavia, as mudanças mal arranharam os subúrbios do problema. Agora, o poder que agiu de forma imprudente, desidiosa, se julga portador de autoridade moral para submeter o Judiciário à ação corrosiva, desmoralizante, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. E é indispensável anotar que as deficiências na atividade judicial resultam, de maneira substancial, de leis dissimuladas, contraditórias, aberrantes  elaboradas pelo Congresso.No mais,a instituição não pode elevar os seus níveis de operacionalidade diante de uma legislação processual que consagra número quase infinito de rituais e formalidades. Como também se acha manietada pelas oportunidades recursais, que opõem distância insuportável entre o direito ofendido e a reparação via sentença irrecorrível. Por trás da noção mesquinha que as elites no poder cultivam em relação ao Judiciário viceja a ignorância. O Legislativo e o Executivo não se dão conta de que o magistrado não é funcionário público. Caso fosse, seu dever de lealdade não seria com a sociedade, cujos direitos e garantias lhe cumpre tutelar, mas com o Estado. O juiz é antes um agente da sociedade,por isso sua atividade está protegida pelo manto da independência.A CPI é um golpe contra a magistratura independente.(Josemar Dantas. Direito e justiça. In: Correio Braziliense, 5/4/99, p. 2

741) Com base no conteúdo do texto, assinale a opção correta.
a) O autor é francamente favorável à instalação de uma CPI para investigar os atos do Poder Judiciário.
b) O clamor popular por uma ampla reforma do Poder Judiciário manifestou-se, há mais de dez anos, antes da instalação da Assembléia Nacional Constituinte.
c) Uma CPI para a investigação do Poder Judiciário foi instalada em 1987.
d) O legislador constituinte procurou incorporar à  atual Constituição brasileira todas as propostas que visavam tornar o Poder Judiciário mais dinâmico e eficiente.
e) Profissionais ligados ao universo jurídico muito contribuíram para que a questão da reforma do Poder Judiciário fosse ativa e esclarecedoramente debatida durante a Assembléia Nacional Constituinte.

742) Tendo como referência as idéias contidas no texto, assinale a opção incorreta.
a) As elites no poder têm em boa opinião o Poder Judiciário porque estão cientes dos problemas enfrentados pela Justiça brasileira.
b) O conjunto de sugestões enviado pelos órgãos superiores da Justiça aos legisladores constituintes tinha objetivos a serem alcançados a longo prazo.
c) Se a Justiça brasileira é ineficiente, isso se deve, em parte, à legislação elaborada pelo Congresso Nacional.
d) A atual legislação processual brasileira é ritualística e formalista.
e) A facilidade em impetrar recursos é parcialmente responsável pela morosidade da Justiça brasileira.

743) Ainda com base no texto, assinale a opção correta.
a) Se o magistrado fosse de fato um funcionário público, o seu dever de lealdade seria antes com a sociedade do que com o Estado.
b) Os congressistas brasileiros têm a noção mesquinha de que o Poder Judiciário é constituído por um bando de ignorantes.
c) O Poder Legislativo, que agiu de forma imprudente e desidiosa, não tem, na opinião do autor, autoridade moral para julgar os atos do Poder Judiciário.
d) O manto aludido na linha 32 refere-se à toga do juiz.
e) A CPI é um golpe da magistratura independente contra o Poder Judiciário.

744) No texto, haverá alteração de sentido caso se substitua
a) “Conquanto” (/. 10) por Mesmo que
b) “subúrbios” (/. 14) por arrabaldes
c) “desidiosa” (/. 15) por conflituosa
d) “manietada” (/. 24) por entravada
e) “tutelar” (/. 31) por defender 

745) Nas opções abaixo, os fragmentos destacados em negrito são reescrituras do texto. Assinale aquela em que o fragmento reescrito apresenta sentido diferente do encontrado no texto.
a) linhas 1 e 2: A magistratura clama, há mais de dez anos, por ampla reforma do Poder Judiciário.
b)  linhas 2 e 4: A Assembléia Nacional Constituinte levou a exame, logo após sua instalação em 1987, um conjunto de sugestões oriundo de órgãos superiores da Justiça.
c)  linhas 4 a 7:  Enfim a representação mais autêntica do universo jurídico - magistrados, membros do Ministério Público, juristas, conselheiros da Ordem dos Advogados do Brasil, professores sustentou, sobre o tema, debate ativo e esclarecedor na Assembléia.
d)  linhas 27 e 28: Viceja, por trás da noção mesquinha que as elites no poder cultivam em relação ao Judiciário, a ignorância.
e) linhas 29 a 31: Caso fosse, seu dever de lealdade seria com o Estado, não com a sociedade, cujos direitos e garantias lhe cumpre tutelar.

746) No texto, para evitar repetições, alguns pronomes foram usados em substituição a seus referentes. Assinale a opção que apresenta associação correta entre o pronome e o seu referente.
a) “sua” (/. 2) - “do Poder Judiciário” {1.2)
b) “lo” (/. 10) - “o legislador constituinte” (/. 8)
c) “seu” (/. 30) - “o Legislativo e o Executivo” (/. 28)
d) “cujos” (/. 30) - “funcionário público” (/. 29)
e) “lhe” (/. 31) - “o magistrado” (/. 29) 

TEXTO CIII

ESCRITURÁRIO - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

TEXTO 3

Os velhos das cidadezinhas do interior parecem muito mais plenamente velhos que os das metrópoles. Não se trata da idade real de uns e outros, que pode até ser a mesma, mas dos tempos distintos que eles parecem habitar. Na agitação   dos   grandes   centros,   até   mesmo   a   velhice parece ainda estar integrada na correria; os velhos guardam alguma ansiedade no olhar, nos modos, na lentidão aflita de quem se sente fora do compasso. Na calmaria das cidades pequeninas, é como se a velhice de cada um reafirmasse a que vem das montanhas e dos horizontes, velhice quase eterna, pousada no tempo.
Vejam-se as roupas dos velhinhos interioranos: aquele chapéu de feltro manchado, aquelas largas calças de brim caqui, incontavelmente  lavadas, aquele puído dos punhos de camisas já sem cor - tudo combina admiravelmente com a enorme jaqueira do quintal, com a generosa figueira da praça, com as teias no campanário da igreja. E os hábitos? Pica-se oíumo de corda, lentamente, com um canivete herdado do século passado, enquanto a conversa mole se desenrola sem pressa e sem destino. Na cidade grande, há um quadro que se repete mil vezes ao dia, e que talvez  já  diga  tudo:  o velhinho,  no   cruzamento perigoso, decide-se, enfim, a atravessar a avenida, e o faz com aflição, um braço estendido em sinal de pare aos motoristas apressados, enquanto amiúda o que pode o próprio passo. Parece suplicar ao tempo que diminua seu ritmo, que lhe dê a oportunidade de contemplar mais demoradamente os ponteiros invisíveis dos   dias   passados, e de sondar com calma, nas nuvens mais altas, o sentido de sua própria história. Há, pois, velhices e velhices - até que chegue o dia em que ninguém mais tenha tempo para de fato envelhecer. (Celso de Oliveira)

747) A frase “Os velhos das cidadezinhas do interior parecem muito mais plenamente velhos que os das metrópoles” constitui uma:
a) impressão que o autor sustenta ao longo do texto, por meio de comparações
b) impressão passageira, que o autor relativiza ao longo do texto
c) falsa hipótese, que a argumentação do autor demolirá
d) previsão feita pelo autor, a partir de observações feitas nas grandes e nas pequenas cidades
e) opinião do autor, para quem a velhice é mais opressiva nas cidadezinhas que nas metrópoles

748) Considere as seguintes afirmações:
I. Também nas roupas dos velhinhos interioranos as  marcas do tempo parecem mais antigas.
II. Na cidade grande, a velhice parece indiferente à agitação geral;
III. O autor interpreta de modo simbólico o gesto que fazem os velhinhos nos cruzamentos.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma SOMENTE em:
a) I
b) II
c) III
d) I e III
e) II e III

749) Indique a afirmação INCORRETA em relação ao texto:
a) Roupas, canivetes, árvores e campanários são aqui utilizados como marcas da velhice.
b) O autor julga que, nas cidadezinhas interioranas, a vida é bem mais longa que nos grandes centros.
c) Hábitos como o de picar fumo de corda denotam relações com o tempo que já não existem nas metrópoles.
d) O que um velhinho da cidade grande parece suplicar é que lhe seja concedido um ritmo de vida compatível com sua idade.
e) O autor sugere que, nas cidadezinhas interioranas, a velhice parece harmonizar-se com a própria natureza.

750) O sentido do último parágrafo do texto deve ser assim entendido:
a) Do jeito que as coisas estão, os velhos parecem não ter qualquer importância.
b) Tudo leva a crer que os velhos serão cada vez mais escassos, dado o atropelo da vida moderna.
c) O prestígio do que é novo é tão grande que já ninguém repara na existência dos velhos.
d) A velhice nas cidadezinhas do interior é tão harmoniosa que um dia ninguém mais sentirá o próprio envelhecimento.
e) No ritmo em que as coisas vão, a própria velhice talvez não venha a ter tempo para tomar consciência de si mesma.

751) Indique a alternativa em que se traduz corretamente o sentido de uma expressão do texto, considerado o contexto.
a) “parecem muito mais plenamente velhos” = dão a impressão de se ressentirem mais dos males da velhice
b) “guardam alguma ansiedade no olhar” = seus olhos revelam poucas expectativas
c) “fora do compasso” = num distinto andamento
d) “a conversa mole se desenrola” = a explanação é detalhada
e) “amiúda o que pode o próprio passo” = deve desacelerar suas passadas 

TEXTO CIV

ESCRITURÁRIO - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

TEXTO 4

No início do século XX, a afeição pelo campo era uma característica comum a muitos ingleses. Já no final do século XVIII, dera origem ao sentimento de saudade de casa tão característico dos viajantes ingleses no exterior,    como    William    Beckford,    no    leito   de   seu  quarto   de  hotel, português, em 1787, “assediado a noite toda por idéias rurais da Inglaterra.” À medida que as fábricas se multiplicavam, a nostalgia do morador da cidade refletia-se em seu pequeno jardim, nos animais de estimação, nas férias passadas na Escócia, ou no Distrito dos Lagos, no gosto pelas flores silvestres e a   observação   de   pássaros,   e   no   sonho   com   um     chalé   de   fim   de semana no campo. Hoje em dia, ela pode ser observada na popularidade que se conserva daqueles autores conscientemente “rurais” que, do século XVII ao XX, sustentaram o mito de uma Arcádia campestre. Em alguns ingleses, no historiador G. M. Trevelyan, por exemplo, o amor pela natureza selvagem foi muito além dessesanseios vagamente rurais. Lamentava, em um dos seus textos mais eloqüentes, de 1931, a destruição da Inglaterra rural e proclamava a importância do cenário da natureza para a vida espiritual do homem. Sustentava que até o final do século XVIII as obras do homem apenas se somavam às belezas, da natureza; depois, dizia, tinha sido rápida a deterioração. A beleza não mais era produzida pelas circunstâncias econômicas comuns e só restava, como esperança, a conservação do que ainda não fora destruído. Defendia que as terras adquiridas pelo Patrimônio Nacional, a maioria completamente inculta, deveriam ser mantidas assim. Há apenas poucos séculos, a mera idéia de resistir à agricultura, ao invés de estimulá-la, pareceria ininteligível. Como teria progredido a civilização sem a limpeza das florestas, o cultivo do solo e a conversão da paisagem agreste em terra colonizada pelo homem? A tarefa do homem, nas palavras do Gênesis, era “encher a terra e submetê-la”. A agricultura estava para a terra como o cozimento para a carne crua. Convertia natureza em cultura. Terra não cultivada não significava homens incultos. E quando os ingleses seiscentistas mudaram-se para Massachussetts, parte de sua argumentação em defesa da ocupação dos territórios indígenas foi que aqueles que por si mesmos não submetiam e cultivavam a terra não tinham direito de impedir que outros o fizessem.

752)Ao mencionar, no primeiro parágrafo do texto, a inclinação dos ingleses pelo espaço rural, o autor
a) busca enfatizar o que ocorre no século XX, em que a afeição pelo campo lhe parece ser realmente mais genuína.
b) a caracteriza em diferentes momentos históricos, tomando como referência distintas situações em que ela se manifesta.
c) cita costumes do povo inglês destruídos pela aceleração do crescimento das fábricas, causa de sua impossibilidade de volta periódica ao campo.
d) refere autores que procuraram conscientemente manter sua popularidade explorando temas “rurais” para mostrar como se criou o mito de um paraíso campestre.
e) particulariza o espaço estrangeiro visitado pelos ingleses Portugal - para esclarecer o que os indivíduos buscavam e não podia ser encontrado na sua pátria.

753) Leia com atenção as afirmações abaixo sobre o  segundo parágrafo do texto.
I. Em confronto com o primeiro parágrafo, o autor apresenta um outro matiz da relação do espírito inglês com o espaço rural.
II. O autor assinala os pontos mais relevantes referidos por G.M. Trevelyan para comprovar a idéia universalmente aceita de que o contato com a natureza é importante para o espírito.
III. O historiador inglês revela pessimismo, a cujos fundamentos ele não faz nenhuma referência no texto.
São corretas:
a) I, somente
b) III, somente
c) I e III, somente
d) II e III, somente
e) I, II e III

754) As indagações presentes no terceiro parágrafo representam, no texto,
a) pontos relevantes sobre os quais a humanidade ainda não refletiu
b) perguntas que historiadores faziam às pessoas para convencê-las da importância do culto à natureza
c) os pontos mais discutidos quando se falava do progresso na Inglaterra, terra da
afeição pelo campo
d) questões possivelmente levantadas pelos que procurassem entender a razão de muitas pessoas não considerarem a agricultura um bem em si
e) aspectos importantes sobre a relação entre a natureza e o homem, úteis como argumentos a favor da idéia defendida por Trevelyan 

755) No último parágrafo do texto, o comentário sobre os ingleses seiscentistas foi feito como:
a) denúncia dos falsos argumentos utilizados por aqueles que ocupam territórios indígenas
b) exemplo do caráter pioneiro dos ingleses na tarefa de colonização do território americano
c) maneira de evidenciar a árdua tarefa dos que acreditavam na força da agricultura para o progresso da civilização
d) confirmação de que terras incultas são entraves que, há séculos, subtraem ao homem o direito de progredir
e) comprovação de que, há poucos séculos, o cultivo da terra era entendido como sinônimo de civilização

756) Assinale a afirmação INCORRETA.
a) Infere-se do texto que as palavras do Gênesis foram entendidas por muitos como estímulo a derrubar matas, lavrar o solo, eliminar predadores, matar insetos nocivos, arrancar parasitas, drenar pântanos.
b) O paralelo estabelecido entre o cultivo da terra e o cozimento dos alimentos é feito para se pôr em evidência a ação do homem sobre a natureza.
c) O texto mostra que o amor pela natureza selvagem está na base da relação que se estabelece entre cultivo da terra e civilização.
d) O texto mostra que o amor à natureza selvagem, considerado como barbárie, permitiu que certos povos se dessem o direito de apoderar-se dela.
e) O Gênesis foi citado no texto porque o crédito dado às palavras bíblicas explicaria o desejo humano de transformar a natureza selvagem pensando no bem-estar do homem.

741 e 742 a  743 c 744 c 745 b  746 e 747 a  748 d  749 b  750 e 751 c  752 b  753 a  754 d  755 e  756 c

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